Sangue e terror
Um massacre de fiéis inermes, surpreendidos por violência inaudita no final de uma apinhada missa no dia de Pentecostes. Enquanto se celebrava a efusão do Espírito Santo sobre os apóstolos, na igreja católica de São Francisco Xavier em Owo, Estado de Ondo, Nigéria ocidental, os paroquianos — e entre eles também crianças — pagavam com o sangue o seu testemunho de fé. Uma sequência trágica de acontecimentos que os cristãos da Nigéria já experimentaram dolorosamente.
No final da liturgia, um comando de homens com armas e explosivos atacou o edifício de culto. De acordo com as reconstruções iniciais, cinco agressores, depois de ter disparado, detonaram explosivos, deixando no solo somente devastação.
Temem—se dezenas de mortos e feridos: as autoridades locais ainda não difundiram um balanço oficial. No início, parecia que os atacantes tinham raptado pelo menos um sacerdote, versão posteriormente desmentida pela diocese de Ondo. Numa declaração, assinada pelo diretor das Comunicações sociais, padre Augustine Ikwu, fala-se de “homens de origem desconhecida” que entraram em ação “armados com pistolas”, semeando o terror e deixando a “comunidade abalada”. “Neste ponto da história do nosso amado país”, acrescenta a nota da diocese, “precisamos da intervenção de Deus. Na dor, o bispo de Ondo, D. Jude Ayodeji Arogundade, dirigiu um apelo à população, a fim de “manter a calma, respeitar a lei e rezar pelo regresso da paz e da normalidade”.
O presidente Muhammadu Buhari, no último ano do seu mandato, condenou a “hedionda assassinato de fiéis”, assegurando que “o mal não vencerá”. Numa série de tweets, o governador do Estado de Ondo, Rotimi Akeredolu, falou de “ataque vil e satânico” contra pessoas inocentes e exortou à calma. “Os agressores serão perseguidos”, declarou.
O Estado de Ondo, um dos 36 que compõem a Nigéria, está relativamente distante do norte, onde há mais de uma década os extremistas islâmicos de Boko Haram atacam, bombardeiam e raptam e, como recordou o governador Akeredolu, a área de Owo “gozava de relativa paz ao longo dos anos”. O ataque não foi reivindicado, mas uma organização local que representa os interesses da etnia Iorubá local atribuiu a culpa do ataque aos pastores Fulanis, um grupo étnico nómade da África ocidental, difundida da Mauritânia aos Camarões, dedicada à pastorícia e ao comércio e muitas vezes em conflito sangrento com as populações locais. A ação na igreja de São Francisco Xavier é alegadamente um ataque contra o governador Akeredolu, devido ao seu “rigoroso respeito da lei sobre a pastagem aberta”, afirmou a associação “Afenifere”.
Segundo o diretor de Ajuda à Igreja que Sofre, da Itália, Alessandro Monteduro, “nos últimos anos, os Fulanis muniram-se com Ak47s, muito difundidos no país”. Os ataques dos Fulanis contra os agricultores residentes é uma das emergências que angustiam a Nigéria, onde a escassez de terras férteis causada pelas mudanças climáticas e pela desertificação impele os pastores nómades a encontrar forragem para o seu gado cada vez mais a sul, devastando os campos dos agricultores. Para além de Boko Haram, o país africano é flagelado também por bandos de saqueadores e raptores no noroeste e no centro, enquanto o sudeste é teatro de movimentos separatistas.