«Gostaria de vos confiar três verbos, muito fáceis de recordar, que considero fundamentais para a missão hoje, sobretudo dos jovens. Encontro-os em três trechos do Novo Testamento, que veem Jesus e os discípulos em ação. Eis os verbos: levanta-te, cuida e testemunha». Foi esta a exortação que o Papa confiou aos 350 participantes — recebidos em audiência na sala Clementina — por ocasião do sexto Congresso missionário juvenil, promovido pela Fundação “Missio” da Conferência episcopal italiana, de 22 a 25 de abril na “Fraterna Domus” em Sacrofano. A seguir, o discurso de Francisco.
Excelências
Estimados irmãos e irmãs
Bom dia e bem-vindos!
Agradeço ao Secretário nacional as palavras que me dirigiu em nome de todos. Obrigado!
Viestes dos diferentes territórios da Itália para o Congresso missionário juvenil, sobre o tema “Back to the comigi : A missão recomeça a partir do futuro”. É um encontro organizado em colaboração com os Institutos missionários, que qualifica o vosso itinerário formativo, convidando-vos a renovar juntos o compromisso na missão universal da Igreja. Este ano é também uma ocasião preciosa para celebrar o cinquentenário do nascimento do Movimento missionário juvenil das Pontifícias Obras Missionárias, hoje “Missio Jovens”.
É uma celebração importante para vós, jovens missionários: uma oportunidade para recordar o que foi posto na base do nascimento deste Movimento. E da releitura da sua história e na fidelidade a ela recebereis o impulso para um novo ímpeto missionário a viver dia após dia. A missão é assim: dia após dia, não é de uma vez para sempre, não, deve ser vivida cada dia.
Por isso, gostaria de vos confiar três verbos, muito fáceis de recordar, que considero fundamentais para a missão hoje, sobretudo dos jovens. Encontro-os em três trechos do Novo Testamento, que veem Jesus e os discípulos em ação. Eis os verbos: levanta-te, cuida e testemunha. Exprimem três movimentos específicos, que espero que vos ajudem no percurso para o futuro.
O primeiro verbo — levanta-te — é tirado do episódio do Evangelho de Lucas em que Jesus restitui a vida ao filho da viúva de Naim (7, 11-17). Apenas Lucas, muito atento às moções da alma humana e, em particular, das mulheres, narra este episódio. Relendo o texto, impressiona a sua dinâmica: Jesus chega a essa pequena cidade e vê que há uma procissão fúnebre que sai do povoado; uma mãe viúva acompanha o ataúde do filho para a sepultura; o evangelista observa: «Ao vê-la, o Senhor, compadeceu-se dela e disse-lhe: “Não chores!”» (v. 13). Aproximou-se da mãe e disse: “Não chores!”. É o que dizemos quando vamos aos velórios: “Não chores!”. Mas Jesus disse-o para iniciar uma ação. Interessa-se pela dor dos últimos, Jesus interessa-se pela dor de quem sofre, muitas vezes de modo composto e digno, de quem perdeu a esperança e de quem já não vê um futuro. Nessa circunstância, a morte de um filho significava a perda de tudo. Jesus aproxima-se do caixão e toca-o. Não lhe interessa se este contato pode torná-lo impuro, como dizia a Lei. Ele veio para salvar quem está nas trevas e na sombra da morte. Depois, diz: «Jovem, ordeno-te, levanta-te!» (v. 14). Este é o verbo: “Levanta-te!”. Imaginemos: diante do caixão daquele jovem, um jovem como vós: “Ordeno-te, levanta-te!”. Restituir a vida àquele jovem significa restituir o futuro também à mãe e a toda a comunidade.
Esta palavra de Jesus ecoa ainda hoje no coração de muitos jovens, e a cada um dirige o convite: “Ordeno-te, levanta-te!”. Este é o primeiro sentido da missão sobre o qual vos convido a refletir: Jesus dá-nos a força para nos levantarmos e pede-nos para escapar da morte do fechamento em nós mesmos, da paralisia do egoísmo, da preguiça e da superficialidade. Estas paralisias estão um pouco em toda a parte. E são elas que nos bloqueiam e nos fazem viver uma fé de museu, não uma fé forte, uma fé mais morta do que viva. Por isso, para resolver esta atitude negativa, Jesus diz: “Levanta-te!”. “Levantai-vos!”, para ser relançados rumo a um futuro de vida, cheio de esperança e de caridade para com os irmãos. A missão recomeça quando levamos a sério a palavra do Senhor Jesus: levanta-te!
Outro aspeto ligado ao primeiro encontra-se na célebre passagem do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Mais uma vez, o evangelista é Lucas. Um doutor da Lei pergunta a Jesus: “Quem é o meu próximo?”, e Jesus responde com a parábola do Bom Samaritano: um homem desce de Jerusalém para Jericó e, ao longo do caminho, é assaltado e espancado por salteadores, e é deixado meio-morto à beira da estrada.
Diversamente de dois ministros do culto, que o veem mas vão além, um Samaritano, ou seja, um estrangeiro para os judeus daquela época, que não tinha muita amizade com eles, detém-se e cuida dele. E fá-lo de modo inteligente: presta-lhe os primeiros socorros, depois leva-o a uma hospedaria e paga ao dono para que que o assista nos dias seguintes. Algumas pinceladas para descrever outro aspeto da missão, nomeadamente, o segundo verbo: cuidar. Ou seja, viver a caridade de modo dinâmico e inteligente. Hoje precisamos de pessoas, especialmente de jovens, que tenham olhos para ver as necessidades dos mais fracos e um grande coração que os torne capazes de se dedicar totalmente.
Também vós sois chamados a fazer fecundar as vossas competências e a pôr a vossa inteligência ao serviço, a organizar a caridade com projetos de grande envergadura. Hoje cabe a vós, mas não sois os primeiros! Quantos missionários “bons samaritanos” viveram a missão cuidando dos irmãos e irmãs feridos ao longo do caminho! Seguindo os seus passos, com o estilo e os métodos adequados ao nosso tempo, agora é a vossa vez de realizar uma caridade discreta e eficaz, uma caridade fantasiosa e inteligente, não episódica, mas contínua ao longo do tempo, capaz de acompanhar as pessoas no seu caminho de cura e de crescimento. Este é o segundo verbo que vos confio: cuida dos irmãos. Sem egoísmo, ao serviço, para ajudar.
Por fim, um terceiro aspeto essencial da missão encontra-se num episódio dos Atos dos Apóstolos, que bem se adapta ao tempo pascal que vivemos. Com efeito, após a sua ressurreição, Jesus mostrou-se aos seus discípulos durante quarenta dias. Fê-lo para lhes explicar o mistério da sua morte, para lhes perdoar a fuga no momento da provação, mas sobretudo para os encorajar a ser suas testemunhas no mundo inteiro. Jesus diz: «Descerá sobre vós o Espírito Santo que vos fortalecerá; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo» (At 1, 8).
Cada cristão, batizado na água e no Espírito Santo, é chamado a viver como que imerso numa Páscoa perene e, portanto, a viver como ressuscitado. Não viver como um morto, viver como ressuscitado! Este dom não é apenas para nós, mas destina-se a ser partilhado com todos. A missão não pode deixar de ser motivada pelo entusiasmo de finalmente poder partilhar esta felicidade com os outros. Uma experiência de fé bela e enriquecedora, que também sabe enfrentar as inevitáveis resistências da vida, torna-se quase naturalmente convincente. Quando alguém narra o Evangelho com a própria vida, abre uma brecha até nos corações mais duros. Por isso, confio-vos o último verbo do missionário cristão: testemunha com a tua vida. E quem não dá testemunho com a sua vida, quem finge... é como alguém que tem alguns cheques na mão mas não os assina. “Dou-te isto”: não serve para nada. Testemunhar significa assinar as nossas riquezas, as nossas qualidades, a nossa vocação. Por favor, jovens, assinai sempre! Colocai ali o vosso coração!
Não vos esqueçais destes três verbos: levantar-se da própria sedentariedade, para cuidar dos irmãos e testemunhar o Evangelho da alegria. Compreendestes? Quais eram os três verbos? [Respondem: levanta-te, cuida, testemunha!]. Ah, já aprendestes. Muito bem!
Saúdo-vos com uma frase de Santo Óscar Romero: «Quanto mais feliz é um homem, tanto mais a glória de Cristo se manifesta nele». Desejo que sejais missionários de alegria e missionários de amor. O anúncio deve ser feito com o sorriso, não com a tristeza. No final da sua Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, São Paulo vi diz que é desagradável ver evangelizadores tristes, melancólicos: lede-o. No final, as duas últimas páginas: a descrição do evangelista forte, do missionário e daqueles que são tristes dentro de si, incapazes de dar vida aos outros. Por isso, desejo que sejais missionários de alegria e de amor. O anúncio deve ser feito com o sorriso: mas não com o sorriso profissional, nem com aquele que faz a publicidade de pasta de dentes, não, com aquele não funciona. Aquele não é necessário. O anúncio deve ser feito com o sorriso, mas com o sorriso sincero, não com a tristeza. Compartilhai sempre a Boa Nova e sereis felizes. Acompanho-vos com a oração e abençoo-vos. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.
Obrigado!