«Por favor, cuidai dos idosos», foi a recomendação do Papa Francisco na audiência geral de quarta-feira 20 de abril, que voltou a ser realizada na praça de São Pedro na presença de vinte mil peregrinos e fiéis. Continuando a catequese sobre o valor da velhice, o Pontífice refletiu sobre o tema «Honra pai e mãe: amor pela vida vivida».
Estimados irmãos e irmãs
bom dia!
Hoje, com a ajuda da Palavra de Deus, que acabámos de ouvir, abrimos uma passagem através da fragilidade da velhice, marcada de uma forma especial pelas experiências de desorientamento e aviltamento, perda e abandono, desilusão e dúvida. Naturalmente, as experiências da nossa fragilidade face às situações dramáticas — por vezes trágicas — da vida, podem ocorrer em qualquer momento da existência. No entanto, na velhice podem causar menos impressão e induzir nos outros uma espécie de habituação, até de aborrecimento. Quantas vezes ouvimos ou pensámos: “Os velhos incomodam”; dissemos, pensámos… As feridas mais graves da infância e da juventude provocam justamente um sentimento de injustiça e rebelião, uma força para reagir e lutar. Por outro lado, as feridas, até graves, da velhice são inevitavelmente acompanhadas pela sensação de que, em qualquer caso, a vida não se contradiz, porque já foi vivida. E assim os idosos são afastados um pouco até da nossa experiência: queremos afastá-los.
Na comum experiência humana, o amor — como se diz — é descendente: não volta à vida que ficou para trás com a mesma força com que se derrama sobre a vida que ainda está à frente. A gratuidade do amor também se vê nisto: os pais sabem-no desde sempre, os velhos aprendem-no depressa. No entanto, a revelação abre um caminho para uma diversa restituição do amor: é a via do honrar quem nos precedeu. A via do honrar as pessoas que nos precederam começa por isto: honrar os idosos.
Este amor especial que abre o caminho sob a forma de honra — isto é, ternura e respeito ao mesmo tempo — destinado à idade avançada é selado pelo mandamento de Deus. «Honrar pai e mãe» é um compromisso solene, o primeiro da “segunda tábua” dos dez mandamentos. Não se trata apenas do próprio pai e da própria mãe. Trata-se da geração e das gerações que precedem, cuja despedida pode também ser lenta e prolongada, criando um tempo e espaço de convivência duradouro com as outras idades da vida. Por outras palavras, trata-se da velhice da vida.
Honra é uma boa palavra para enquadrar este âmbito de restituição do amor que diz respeito à velhice. Isto é, recebemos o amor dos pais, dos avós e agora restituímos este amor a eles, aos idosos, aos avós. Hoje redescobrimos o termo “dignidade”, para indicar o valor de respeitar e cuidar da vida de todos. Dignidade, aqui, equivale essencialmente à honra: honrar pai e mãe, honrar os idosos é reconhecer a dignidade que têm.
Pensemos cuidadosamente sobre esta bela declinação do amor que é honra. O próprio cuidado dos doentes, o apoio a quantos não são autossuficientes, a garantia de sustento, podem carecer de honra. Falta honra quando o excesso de confidência, em vez de ser expresso como delicadeza e afeto, ternura e respeito, se transforma em rudeza e prevaricação. Quando a fraqueza é repreendida, e até punida, como se fosse uma culpa. Quando a perplexidade e a confusão se tornam uma abertura ao escárnio e à agressividade. Pode acontecer inclusive dentro das paredes domésticas, nas casas de cura, assim como nos escritórios ou nos espaços abertos da cidade. Incentivar nos jovens, também indiretamente, uma atitude de suficiência — e até de desprezo — em relação à velhice, às suas debilidades e à sua precariedade, produz situações horríveis. Abre o caminho a excessos inimagináveis. Os jovens que ateiam fogo no cobertor de um “mendigo” — vimos isto — porque o veem como um descarte humano são a ponta do iceberg, ou seja, do desprezo por uma vida que, longe das atrações e pulsões da juventude, já aparece como uma vida de descarte. Muitas vezes pensamos que os idosos são o descarte ou colocamo-los nós no descarte; desprezam-se os idosos e descartam-nos da vida, pondo-os de lado.
Este desprezo, que desonra os idosos, na verdade desonra-nos a todos. Se desonrar o idoso desonro a mim mesmo. O trecho do Livro do Eclesiástico, que ouvimos no início, é justamente severo sobre esta desonra, que clama por vingança aos olhos de Deus. Há uma passagem na história de Noé que é muito expressiva a este respeito. O velho Noé, herói do dilúvio e ainda grande trabalhador, jaz inconsciente depois de ter bebido uns copos a mais. Já era idoso, mas bebeu demais. Os filhos, para que não acordasse e se envergonhasse, cobrem-no delicadamente, com o olhar baixo, com grande respeito. Este texto é muito bonito e diz tudo sobre a honra devida ao idoso; cobrir as fragilidades do idoso, para que ele não sinta vergonha, é um texto que nos ajuda muito.
Não obstante todas as providências materiais que as sociedades mais ricas e organizadas disponibilizam para a velhice — das quais nos podemos certamente orgulhar — a luta pela restituição daquela especial forma do amor que é a honra parece-me ainda frágil e imatura. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, apoiá-la e encorajá-la, oferecendo um melhor apoio social e cultural àqueles que são sensíveis a esta forma decisiva de “civilização do amor”. E sobre isto, permito-me aconselhar os pais: por favor, aproximai os filhos, as crianças, os filhos jovens aos mais velhos, aproximai-os sempre. E quando o idoso estiver doente, um pouco fora de si, aproximai-os sempre: que saibam que esta é a nossa carne, que foi isto que nos permitiu estar aqui agora. Por favor, não afasteis os idosos. E se não houver outra possibilidade senão levá-los para um lar de idosos, por favor, visitai-os e levai as crianças para os ver: eles são a honra da nossa civilização, os idosos que abriram as portas. E muitas vezes, os filhos esquecem-se disto. Digo-vos algo pessoal: em Buenos Aires, gostava de visitar as casas de idosos. Ia frequentemente e visitava cada um deles. Lembro-me de uma vez ter perguntado a uma senhora: “Quantos filhos tem a senhora?” — “Tenho quatro, todos casados, com netinhos”. E começou a falar-me sobre a família. “Eles vêm aqui?” — “Sim, vêm sempre!”. Quando saí da sala, a enfermeira, que tinha ouvido, disse-me: “Padre, ela mentiu para encobrir os filhos. Há seis meses que ninguém vem!”. Isto é descartar o idoso, é pensar que os velhos são material de descarte. Por favor: é um pecado grave. Este é o primeiro grande mandamento, e o único que diz o prémio: “Honra pai e mãe, e terás longa vida na terra”. Este mandamento de honrar os idosos dá-nos uma bênção, que se manifesta desta forma: “Terás longa vida”. Por favor, preservai os idosos. E se perderem a cabeça, preservai-os de qualquer forma porque são a presença da história, a presença da minha família, e graças a eles estou aqui, todos podemos dizer: graças a ti, avô e avó, estou vivo. Por favor, não os deixeis sozinhos. E isto, de cuidar dos idosos, não é uma questão de cosméticos e de cirurgia plástica, não. Trata-se antes de uma questão de honra, que deve transformar a educação dos jovens em relação à vida e às suas fases. O amor pelo humano que nos é comum, inclusive a honra pela vida vivida, não é uma questão para velhos. Trata-se antes de uma ambição que fará brilhar a juventude que herda as suas melhores qualidades. A sabedoria do Espírito de Deus nos conceda a abertura do horizonte desta verdadeira revolução cultural com a energia necessária.
No final da catequese, saudando os vários grupos presentes, Francisco dirigiu aos de expressão portuguesa as seguintes palavras.
Dirijo uma cordial saudação aos fiéis de língua portuguesa, a todos desejando santos dias de Páscoa! Perante as dolorosas derrotas da vida, Cristo, vencedor do pecado, do medo e da morte, exorta a não se render ao mal e à violência. Deixemo-nos vencer pela paz de Cristo! Em seu Nome vos abençoo, a vós e aos vossos entes queridos!