«Deus perdoa tudo e Deus perdoa sempre! Somos nós que nos cansamos de pedir perdão», reafirmou o Papa na homilia durante a santa missa “in Coena Domini” celebrada na capela do novo complexo penitenciário em Civitavecchia, onde foi na tarde de 14 de abril, Quinta-Feira Santa. Dirigindo-se à comunidade prisional e em particular aos presos, o Pontífice convidou-os a viver «esta cerimónia com o desejo de servir e de se perdoarem uns aos outros».
Todas as quintas-feiras santas lemos esta passagem do Evangelho: é uma coisa simples. Jesus, com os seus amigos, os seus discípulos, está na ceia, a ceia da Páscoa; Jesus lava os pés aos seus discípulos — fez uma coisa estranha: nessa altura os escravos lavavam os pés à entrada da casa. E depois, Jesus — com um gesto que também toca o coração — lava os pés ao traidor, aquele que o vende. Jesus é assim e ensina-nos isto, simplesmente: deveis lavar os pés uns aos outros. É o símbolo: entre vós, deveis servir-vos uns aos outros; um serve o outro, sem interesse. Como seria bom se isto pudesse ser feito todos os dias e a todas as pessoas: mas há sempre interesse, que é como uma serpente que entra. E ficamos escandalizados quando dizemos: “Fui àquele guichet público, obrigaram-me a pagar um suborno”. Isto dói, porque não é bom. E frequentemente procuramos o nosso próprio interesse na vida, como se estivéssemos a pagar um ao outro um suborno. Em vez disto, é importante fazer tudo sem interesse: um serve o outro, um é o irmão do outro, um faz o outro crescer, um corrige o outro, e desta forma as coisas devem avançar. Servir! E depois, o coração de Jesus, que diz ao traidor: “Amigo” e também espera por ele, até ao fim: ele perdoa tudo. Gostaria de colocar isto no coração de todos nós hoje, no meu também: Deus perdoa tudo e Deus perdoa sempre! Somos nós que nos cansamos de pedir perdão. E cada um de nós, talvez, tenha algo no seu coração, que carrega há algum tempo, que lhe causa um zumbido, algum pequeno esqueleto escondido no armário. Mas, pedir perdão a Jesus: Ele perdoa tudo. Ele só quer a nossa confiança para pedir perdão. Podes fazê-lo quando estás sozinho, quando estás com outros companheiros, quando estás com o sacerdote. Esta é uma bela oração para hoje: “Mas, Senhor, perdoai-me. Eu tentarei servir os outros, mas Tu serves-me com o Teu perdão”. Foi assim que ele pagou, com o perdão. Este é o pensamento com que gostaria de vos deixar. Para servir, para nos ajudarmos uns aos outros e para termos a certeza de que o Senhor perdoa. E quanto perdoa ele? Tudo! E até que ponto? Sempre! Ele não se cansa de perdoar: somos nós que nos cansamos de pedir perdão.
E agora, procurarei fazer o mesmo gesto de Jesus: lavar-vos os pés. Faço-o de coração porque nós, sacerdotes, deveríamos ser os primeiros a servir os outros, não a explorar os outros. O clericalismo por vezes leva-nos por este caminho. Mas temos de servir. Isto é um sinal, também um sinal de amor por estes irmãos e irmãs e por todos vós aqui; um sinal que significa: “Eu não julgo ninguém. Procuro servir a todos”. Há Aquele que julga, mas é um Juiz bastante estranho, o Senhor: ele julga e perdoa. Sigamos esta cerimónia com o desejo de servir e nos perdoarmos.