Stabat Mater dolorosa, iuxta crucem lacrimosa, dum pendebat Filius. As palavras imperativas da antiga e popular oração são a legenda do ícone que o Papa Francisco delineou — com toda a Igreja — na basílica do Vaticano durante o Ato de consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria. Escolhendo significativamente, no meio da guerra, o dia 25 de março, solenidade da Anunciação do Senhor.
Numa hora grave da história, a basílica levou todos à experiência crua e essencial do Calvário. No alto, o Crucifixo. Colocado sobre o altar da Confissão de Pedro. E mais abaixo, ao lado, a imagem de Nossa Senhora de Fátima, venerada há cinquenta anos no santuário de São Vittorino Romano. E Francisco — Pedro – que reza a Maria aos pés da cruz. Fala com Maria. Num diálogo feito também de silêncios e olhares. E de uma carícia, fazendo depois o sinal da cruz.
O Papa não estava sozinho. Porque o Papa nunca está sozinho. Nem sequer quando — como a 27 de março há dois anos — atravessa orante a praça de São Pedro, só aparentemente vazia, para invocar de Deus o fim de outra “guerra”: a pandemia de Covid-19, na sua fase mais aguda.
Portanto, como se fosse no Calvário. Mas também em Fátima e em qualquer outro lugar da terra, onde se eleva o grito das vítimas de guerras e injustiças. Assim, a basílica é mais uma vez encruzilhada de dor e esperança.
Ao lado de Francisco, diante da imagem de Maria, havia uma menina e um menino. Em representação da humanidade, especialmente das crianças que morrem e sofrem com a loucura da guerra. Rezaram com o Papa e, com ele, ofereceram um cesto de rosas brancas a Maria. Nada poderia ser mais simples, mais familiar. Nada poderia ser mais concreto!
É o manual do modelo do cuidado para as relações internacionais, proposto por Francisco. Trata-se de um gesto político, teria insistido Giorgio La Pira, que precisamente sobre a hipótese de trabalho de Fátima delineou, a partir dos anos 50 do século passado, toda a sua ação em prol da paz, até com a União Soviética, entre a “cortina de ferro” e a “guerra fria”.
O rito para a reconciliação de vários penitentes com a confissão e absolvição individual começou às 17 horas, com a proclamação da Palavra de Deus: a passagem da carta de São Paulo aos Colossenses (1, 9-14), o Salmo 97 e o trecho do Evangelho de João (1, 26-38) que narra a impressionante experiência do anúncio do Anjo a Maria. A irrupção de Deus na história!
Após a celebração, o exame de consciência, a confissão geral dos pecados e a oração do Pai-Nosso.
Em seguida, os penitencieiros da basílica do Vaticano e os outros sacerdotes encarregados — em particular da Penitenciaria apostólica e do pontifício Conselho para a promoção da nova evangelização, acompanhados pelo cardeal Piacenza, pelo arcebispo Fisichella e pelo bispo Tebartz-van Elst – puseram-se à disposição para as confissões individuais, durante as quais houve momentos alternados de silêncio e de canto.
O Papa Francisco foi a um dos confessionários perto do altar de São Basílio, o Grande, para se confessar. Depois, confessou 13 pessoas.
O rito concluiu-se com a bênção do pontífice. Em seguida, teve lugar o Ato de consagração ao Imaculado Coração de Maria.
O serviço dos ministrantes foi prestado pelo pontifício Colégio Nepomuceno e os cânticos foram interpretadas pelo coro da Capela Sistina.
Estavam presentes trinta cardeais — com o decano do colégio, Re, e o secretário de Estado, Parolin — e numerosos arcebispos e bispos.
No final da celebração, uma peregrinação espontânea diante da imagem de Maria — para uma oração acompanhada por uma carícia — reavivou com a força da fé do povo de Deus o Ato de consagração realizado pelo sucessor de Pedro.