Comunhão, participação e missão: eis a tríplice missão que o Papa Francisco confiou às irmãs de Santa Doroteia, recebidas em audiência na manhã de 18 de março na sala do Consistório, por ocasião do capítulo geral. Relançando a atualidade do carisma da fundadora, Santa Paula Frassinetti, o Pontífice saudou a recém-reconfirmada superiora, irmã Maria da Conceição Marques Ribeiro, e alertou contra a “tagarelice”, descrevendo-a como “a peste de uma comunidade”.
Prezadas irmãs, bom dia!
Tenho o prazer de vos dar as boas-vindas por ocasião do vosso Capítulo Geral, e dirijo as minhas cordiais saudações a cada uma de vós, começando pela nova Superiora-Geral, a quem agradeço as suas palavras. És a nova? E a outra, onde está? [Respondem: foi confirmada!]. Ah, confirmada!... Não a expulsaram? [ri, riem]. Ah, bom. Desejo-lhe, Madre, assim como às Conselheiras, todo o bem no serviço que vos foi confiado e, convosco, agradeço às irmãs que completaram o seu cargo.
Nestes dias vivestes e estais a concluir a experiência do Capítulo, que nos Institutos de vida consagrada é uma forma concreta de praticar a sinodalidade: um tempo forte de fraternidade, de escuta, de diálogo, de discernimento; tudo à luz e com a unção do Espírito Santo.
A palavra-chave para o vosso trabalho é a nota que o evangelista Mateus insere na conclusão do episódio dos Magos: «E voltaram por outro caminho...» (2, 12). Por outro caminho. No caso dos Magos, foi realmente um percurso alternativo, para evitar as tramas do rei Herodes. Mas “outro caminho” também pode significar uma forma nova e diferente de caminhar. E, com efeito, também vos referistes aos discípulos de Emaús que, depois de ter encontrado o Senhor, voltaram a Jerusalém completamente transformados. O caminho era o mesmo, mas era “outro”: já não era o caminho do crepúsculo, mas de uma nova alvorada; já não era o caminho da tristeza, sem esperança, sem futuro, mas outro, um caminho novo, cheio de admiração, de gratidão, até de arrependimento pelo coração lento a crer, mas leve e dócil por causa da graça concedida pelo Senhor Ressuscitado.
Como aqueles dois discípulos, também vós, após estes dias de encontro especial com o Mestre, com toda a confiança que n’Ele depositais, agora podeis empreender o caminho que Ele próprio vos indica na vida presente do Instituto. Como é bom, queridas irmãs, tomar outro caminho, uma vereda diferente, quando é o próprio Senhor que no-la mostra! Como é bom empreender outro caminho, quando o descobrimos no diálogo fraterno!
Na Igreja, os Institutos de vida consagrada são repositórios de uma grande herança e de uma rica tradição de sinodalidade: caminhar juntos, com Cristo e no Espírito, é a essência da vida religiosa cristã. É necessário recorrer sempre de novo a estas fontes de participação fraterna; sem se fechar em círculos estreitos; sem se deixar guiar por interesses pessoais ou egoístas. Mas deixar-se guiar sempre pelo Espírito de amor do Senhor, com docilidade, repetindo-lhe com confiança a invocação: «Mostrai-nos o caminho a seguir todos juntos!» (Prece Adsumus). E isto é muito diferente da tentação que sentimos quando estamos em comunidade: a tagarelice. Não é verdade? Por favor, evitai a bisbilhotice, escapai, é a peste! O Espírito acompanha-nos. Graças a Ele podemos caminhar juntos e experimentar uma Igreja que recebe e vive o dom da unidade; caminhar juntos para realizar «uma obra apaixonada e encarnada, que imprima um estilo de comunhão e participação em vista da missão» (Discurso no início do percurso sinodal, 9 de outubro de 2021).
Gostaria de meditar brevemente convosco sobre este estilo de comunhão, participação e missão.
De Santa Paula Frassinetti, vossa Fundadora, podemos aprender a comunhão. Ela amou Jesus Cristo com paixão, com um amor que a levou a testemunhar aos outros a vida de comunhão que ela foi a primeira a experimentar. Também Santa Paula, tal como outros santos e santas fundadores e fundadoras, ficou fascinada com «a unidade dos Doze em volta de Jesus, com a comunhão que distinguiu a primeira comunidade de Jerusalém». E «dando vida à própria comunidade [...] quis reproduzir esses modelos evangélicos, viver com um só coração e uma só alma, beneficiar da presença do Senhor (cf. Perfectae caritatis, 15)» (Carta para o Ano da vida consagrada, 21 de novembro de 2014, n. 2).
Santa Paula Frassinetti também nos indica o caminho da participação. Com efeito, percorreu o caminho da comunhão para a participação, deixando-se inquietar pelos “gritos”, pelas carências, pelas urgências do seu tempo, de tal forma que se sentiu compelida a superar-se a si mesma, a sair de si própria. E ela, que não tinha frequentado a escola, teve a coragem de dar vida na Igreja a uma Congregação dedicada à educação, envolvendo muitas pessoas e criando espaços de participação. Este seu projeto, tornado fecundo pelo Espírito Santo, vemo-lo hoje bem inserido nos quatro continentes, onde estais presentes; e vós mesmas fostes enriquecidas pela experiência intercultural, inclusive nas dinâmicas comunitárias (cf. ciclsal , Instrução Recomeçar a partir de Cristo, n. 7).
Santa Paula também vos mostrou o caminho para a missão. Recebeu o carisma de “evangelizar educando e educar evangelizando”. Esta foi a missão que Deus lhe confiou e que se tornou a vossa missão. E, na medida em que fordes fiéis a esta missão, constituís uma presença generativa na Igreja. Como todos sabemos por experiência, pois todos vivemos a experiência de ser educados, em família, na escola, na paróquia... Num certo sentido, não há trabalho mais generativo do que o educacional. E levais esta riqueza sempre nova também às diferentes realidades onde estais presentes. Assim, o vosso carisma e missão são sempre atuais, mas diria particularmente hoje, num contexto cultural e social que exige um novo “pacto educativo”. Com efeito, «nunca como hoje houve tanta necessidade de unir esforços numa ampla aliança educacional para formar pessoas maduras, capazes de superar a fragmentação e a oposição, reconstruindo o tecido de relações para uma humanidade mais fraterna» (Pacto educativo global, 12 de setembro de 2019). Por conseguinte, encorajo-vos a dar sempre o melhor de vós próprias para «reavivar o vosso compromisso para e com as novas gerações, renovando a vossa paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e compreensão mútua» (ibidem).
Caras Irmãs, neste momento da história, marcado por uma grave crise, primeiro com a pandemia de Covid-19 e agora por uma guerra que fere todos, exorto-vos a continuar o vosso caminho com ímpeto, levando em frente o método educativo de Santa Paula: pela senda do coração e do amor, «a fim de que cada ser humano se torne artífice do próprio destino» (Enc. Fratelli tutti, 187). Abençoo-vos de coração e confio cada uma de vós e todas as vossas irmãs ao Senhor e a Maria Santíssima. E peço-vos um favor: não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!
Vou dar-vos o escrito de um Núncio Apostólico sobre a tagarelice: talvez vós não saibais do que se trata... Por favor, estudai-o, e nada de bisbilhotice nas vossas comunidades, pois a tagarelice é a peste de uma comunidade!