A questão da migração é um dos dramas mais sérios do mundo de hoje: muitas pessoas são obrigadas a deixar o próprio país por motivos políticos, guerra, falta de trabalho e razões religiosas, reafirmou o Papa num amplo diálogo em streaming — no final da tarde de 24 de fevereiro — com estudantes de 57 universidades, de 21 países do Norte, do Centro e do Sul da América. “Construir pontes norte sul” foi o tema principal do encontro promovido pela Loyola University de Chicago, com a colaboração da Pontifícia Comissão para a América Latina.
E assim, da Casa Santa Marta, o Papa dialogou com os jovens, respondendo às suas perguntas sobre os desafios mais atuais do nosso tempo: começando pela migração, continuando depois com o cuidado pela criação, a justiça social, o serviço aos outros, mas também problemas sociais e económicos. Sempre com a busca de Deus no coração.
Um confronto franco, inserido no atual caminho sinodal da Igreja universal. No início do encontro falaram o cardeal Blaise Cupich, arcebispo de Chicago, e Peter Jones, decano do Instituto de estudos pastorais da Loyola University. «A Pontifícia Comissão para a América Latina aspira a ser ponte de comunicação, não só entre a Cúria romana e as Igrejas particulares, mas também entre as Américas e os seus povos», disse o secretário, Emilce Cuda, explicando as razões desta iniciativa.
O Papa referiu-se à questão da migração, salientando que existe um princípio muito claro, expresso em quatro verbos: receber, acompanhar, promover, integrar. Cada Estado deve comunicar honestamente quantas pessoas pode receber. E neste ponto os outros países, num diálogo universal de fraternidade, organizam-se para os poder acolher.
O Pontífice lembrou aos estudantes que é importante falar sobre migração porque – com efeito – a América é composta por filhos de emigrantes. E ele mesmo recordou a história da sua família. A Argentina, disse, é um cocktail de migrantes. Mas os a América do Norte também é, em grande parte, constituída por emigrantes. Com esta consciência, acrescentou, é necessário aprender a viver com os outros.
Francisco lançou um desafio aos estudantes: aprender a estudar, a enfrentar e a assumir este tema tão atual. Com efeito, a universidade precisa de um suplemento de alma, pois não se pode arriscar a sair, após anos de estudo, com o coração frio. O Pontífice sugeriu que a experiência universitária se baseie na harmonia de três linguagens: pensar, sentir e fazer. Aliás, prosseguiu, se o jovem não nascer inquieto, falta-lhe sal, algo que lhe dá vida. Neste sentido, Francisco indicou então a esperança como uma virtude fundamental na carreira universitária.
Em resposta a uma pergunta de uma jovem do Brasil, o Papa reiterou o seu inabalável não à violência, propondo o caminho da não-violência ativa. É certamente um desafio para os jovens de hoje encontrar a coragem de denunciar a violência que destrói a dignidade e não constrói nada. Confirmam isto as ditaduras ao longo da história. O mundo, insistiu o Pontífice, precisa realmente da profecia da não-violência. Indicando o exemplo de Gandhi.
Depois, uma pergunta ofereceu a Francisco a oportunidade de abordar a questão do diálogo entre gerações. E assim o Papa referiu-e também à importância das raízes: uma sociedade que nega as suas raízes é suicida, disse claramente. E é aqui que entra em questão o diálogo entre os idosos e os jovens: os idosos são precisamente as raízes, de onde provêm os frutos. E também os migrantes que chegam a diferentes culturas e países devem integrar-se, mas sem esquecer as próprias raízes. Por fim, o Pontífice relançou o apelo pela salvaguarda da criação.