No domingo 24 de julho será celebrado em toda a Igreja universal o segundo Dia mundial dos avós e dos idosos. O tema escolhido pelo Papa Francisco para esta ocasião é «Na velhice ainda darão frutos» (Sl 92, 15), e tenciona realçar que os avós e os idosos constituem um valor e um dom quer para a sociedade quer para as comunidades eclesiais, anunciou num comunicado o Dicastério para os leigos, a família e a vida (dlfv), explicando que o tema é também um convite a reconsiderar e valorizar os avós e os idosos, demasiadas vezes mantidos à margem das famílias, das comunidades civis e eclesiais. Com efeito, a sua experiência de vida e de fé pode contribuir para edificar sociedades conscientes das próprias raízes e capazes de sonhar com um porvir mais solidário. Além disso, o convite a prestar atenção à sabedoria dos anos revela-se particularmente significativo no contexto do percurso sinodal empreendido pela Igreja. O Dicastério organizador convida as paróquias, as dioceses, as realidades associativas e as comunidades eclesiais do mundo inteiro a encontrar as modalidades para celebrar o Dia no próprio contexto pastoral e para isto, em seguida, oferecerá alguns instrumentos pastorais adequados.
Na audiência geral de 9 de fevereiro, o Papa Francisco falou dos idosos como de um «tesouro de humanidade», frisando mais uma vez a centralidade que a leitura cristã da velhice tem no seu magistério. A insistência do Papa sobre estes temas mostra que dedicar um pouco de atenção à terceira idade não pode permanecer uma atitude episódica, ligada à boa vontade de alguns sacerdotes de bom coração ou à iniciativa extemporânea de uma piedosa associação laica. Pelo contrário, há necessidade de uma conversão estrutural ao acolhimento dos idosos nas comunidades eclesiais, à escuta das suas necessidades e à valorização da sua contribuição.
Este é o motivo pelo qual Francisco instituiu o Dia mundial dos avós e dos idosos, a celebrar todos os anos e em todas as comunidades eclesiais, e cujo tema para 2022 acaba de ser anunciado: «Na velhice ainda darão frutos» (Sl 92, 15). Surpreende a escolha de utilizar um termo — velhice — frequentemente evitado, como se evocasse algo desagradável ou uma doença da qual se teme o contágio. De resto, apenas uma semana antes, o Papa tinha falado sobre a necessidade de favorecer o diálogo entre os jovens e os idosos, acrescentando: «Os idosos dão-nos a força para continuar, a sua memória, a sua história; e os jovens levam-na em frente».
A velhice é uma emergência. No sentido literal do termo, pois o número de pessoas que envelhecem aumenta em todas as partes do mundo, dando origem a um fenómeno nunca experimentado na história da humanidade: a vida longa de um elevado número de mulheres e homens; em certos países os idosos são ou em breve serão mais numerosos do que os jovens, invertendo a pirâmide demográfica natural.
Mas a velhice é uma emergência também do ponto de vista social e a pandemia trouxe à luz muitas contradições escondidas debaixo das cinzas. Basta pensar no atual debate na França, a seguir àquele que foi definido como o “escândalo Ehpad”, ou no que acontece no Paraguai, onde o parlamento se viu obrigado a legislar para punir os filhos que afastam os pais dos próprios apartamentos para se apropriar deles. A solidão dos idosos é uma emergência também na Itália onde, nos últimos dias, causou grande impressão a história de uma mulher de 70 anos, Marinella, que foi encontrada morta em casa havia mais de dois anos. Desde setembro de 2019, não só ninguém recebia notícias dela, mas ninguém tinha sentido a necessidade de lhe perguntar “Marinella, como estás?”.
A escolha do Papa de dedicar um domingo por ano aos idosos visa, entre outras coisas, desenvolver uma reflexão que vá além das considerações demográficas, económicas ou de welfare. O surgimento de um novo continente povoado por idosos é uma das caraterísticas da mudança de época a que Francisco se refere frequentemente, e não é suficiente decifrar os seus limites apenas através de frias estatísticas. Pelo contrário, o Papa convida a compreender o sentido da velhice e o lugar dos idosos nas nossas sociedades. No Angelus de 25 de julho de 2021, definiu-o «um desafio para a nossa cultura».
Aliás, a marginalidade do discurso sobre os idosos corresponde à sua marginalidade social e, infelizmente, eclesial. Do mesmo modo, a falta de uma leitura espiritual da sua presença deixa prevalecer considerações de tipo económico-utilitarista, quando se trata de fazer escolhas que lhes dizem respeito.
Até hoje, a Igreja respondeu generosamente aos pedidos de cuidados dos idosos, mas não foi capaz de elaborar um debate aprofundado sobre o seu papel na sociedade e nas comunidades eclesiais. Ainda prevalece o modelo de bem-estar, que tanto bem fez no passado, mas que não ofereceu uma resposta adequada à inesperada e furiosa tempestade da pandemia, e que parece continuar a partir do pressuposto de que senectus ipsa est morbus. A opção de relegar o cuidado dos idosos para lugares especialmente destinados fora da vida normal das famílias, por um lado, isola «os idosos e abandona-os à responsabilidade de outros, sem um acompanhamento familiar adequado e amoroso» e, por outro, «mutila e empobrece a própria família» (Fratelli tutti, 19). A celebração do Dia mundial dos avós e dos idosos, todos os anos e em todas as Igrejas locais, deve tornar-se a ocasião para ativar — a nível global e em estilo sinodal — uma reflexão mais profunda sobre esta fase da vida. É preciso desenvolver uma pastoral, uma espiritualidade e uma teologia da velhice, que até agora faltaram e que serão a única alternativa real à cultura do descarte. Enquanto não aprendermos a compreender o valor dos últimos anos da nossa vida, continuaremos a descartar aqueles de nós que são mais velhos.
Vittorio Scelzo