«Aos numerosos sinais de ameaça, aos tempos sombrios, à lógica do conflito» é necessário opor-se «acolhendo o outro e respeitando a sua identidade», «porque é fundamental ser solidário, não é tempo de indiferença: ou somos irmãos ou tudo se desmorona», foi o urgente apelo de Francisco através de uma mensagem de vídeo, que chegou a Dubai, onde a 4 de fevereiro, se celebra o segundo Dia internacional da fraternidade humana. Uma iniciativa propícia, assim a definiu o Pontífice, «para darmos as mãos, para dizer às comunidades e sociedades em que vivemos que chegou o momento da fraternidade. Todos juntos» crentes de todas as religiões e pessoas de boa vontade, a fim de erguer «uma barreira contra o ódio, a violência e a injustiça».
Estimados irmãos e irmãs!
Antes de tudo, permiti-me saudar com afeto e estima o Grão-Imã Ahmed Al-Tayyeb com quem, exatamente há três anos em Abu Dhabi, assinei o Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum. Nestes anos caminhámos como irmãos, sabendo que, respeitando as nossas próprias culturas e tradições, somos chamados a construir a fraternidade como uma barreira contra o ódio, a violência e a injustiça.
Agradeço a todos aqueles que nos têm acompanhado neste caminho: Sua Alteza o Xeque Mohammed bin Zayed pelo seu constante empenho nesta direção, o Alto Comité para a Fraternidade Humana pelas várias iniciativas promovidas em diferentes partes do mundo, e a Assembleia Geral das Nações Unidas porque, com a resolução de 21 de dezembro de 2020, tornou possível celebrar hoje o Segundo Dia Internacional da Fraternidade Humana. E a gratidão alarga-se a todas as instituições civis e religiosas que apoiam esta nobre causa.
A fraternidade é um dos valores fundamentais e universais que deveria estar na base das relações entre os povos, para que aqueles que sofrem ou são desfavorecidos não se sintam excluídos nem esquecidos, mas acolhidos, apoiados como parte da única família humana. Somos irmãos!
Todos, nos nossos sentimentos comuns de fraternidade uns pelos outros, devemos tornar-nos promotores de uma cultura de paz, que encoraje o desenvolvimento sustentável, a tolerância, a inclusão, a compreensão mútua e a solidariedade.
Todos vivemos sob o mesmo céu, independentemente de onde e como vivemos, da cor da pele, da religião, da classe social, do sexo, da idade, das condições de saúde e económicas. Somos todos diferentes e, no entanto, todos iguais, e este período de pandemia mostrou-nos isto. Repito mais uma vez: não nos podemos salvar sozinhos!
Todos vivemos sob o mesmo céu, e em nome de Deus, nós que somos as suas criaturas, devemos reconhecer-nos como irmãos e irmãs. Como crentes, pertencentes a diferentes tradições religiosas, temos um papel a desempenhar. Qual é este papel? Ajudar os nossos irmãos e irmãs a elevar os olhos e orações para o Céu. Elevemos os olhos ao Céu, pois quem adora a Deus com coração sincero também ama o próximo. A fraternidade leva-nos a abrir-nos ao Pai de todos e a ver nos outros um irmão, uma irmã, a partilhar a vida, a apoiar-nos reciprocamente, a amar e a conhecer os outros.
Todos vivemos sob o mesmo céu. Hoje é o momento oportuno para caminharmos juntos. Não deixemos para amanhã nem para um futuro que não sabemos se virá; hoje é o momento oportuno para caminharmos juntos: crentes e todas as pessoas de boa vontade, juntos. É um dia propício para darmos as mãos, para celebrar a nossa unidade na diversidade — unidade não uniformidade, unidade na diversidade — para dizer às comunidades e às sociedades nas quais vivemos que chegou o tempo da fraternidade. Todos juntos, porque é essencial sermos solidários uns com os outros. E é por isso que hoje, repito, não é um momento de indiferença: ou somos irmãos ou tudo se desmorona. E isto não é uma expressão meramente literária de tragédia, não, é a verdade! Ou somos irmãos ou tudo se desmorona, podemos vê-lo nas pequenas guerras, nesta terceira guerra mundial em pedaços, como os povos são destruídos, como as crianças não têm o que comer, como diminui a educação... É uma destruição. Ou somos irmãos ou tudo se desmorona.
Não é o momento do esquecimento. Todos os dias devemos recordar o que Deus disse a Abraão: que quando olhasse para as estrelas no céu veria a promessa da sua descendência, ou seja, nós (cf. Encontro inter-religioso em Ur, 6 de março de 2021). Uma promessa que também se cumpriu nas nossas vidas: a de uma fraternidade tão ampla e brilhante como as estrelas no céu!
Estimados irmãos e irmãs, prezado irmão Grão-Imã!
O caminho da fraternidade é longo e difícil, mas é a âncora de salvação para a humanidade. Aos muitos sinais de ameaça, aos tempos sombrios, à lógica do conflito, contrapomos o sinal de fraternidade que, acolhendo o outro e respeitando a sua identidade, o solicita a um caminho comum. Não iguais, não, irmãos, cada um com a própria personalidade, a própria singularidade.
Obrigado a todos aqueles que trabalham na convicção de que podemos viver em harmonia e paz, cientes da necessidade de um mundo mais fraterno porque todos nós somos criaturas de Deus: irmãos e irmãs.
Obrigado a quantos se unirem a nós no nosso caminho de fraternidade. Encorajo todos a empenharem-se na causa da paz e a responderem aos problemas e necessidades concretas dos últimos, dos pobres, dos indefesos. A proposta é caminhar lado a lado, “todos irmãos”, para sermos concretamente artífices de paz e justiça, na harmonia das diferenças e respeito pela identidade de cada um. Irmãs e irmãos, avancemos juntos neste caminho da fraternidade. Obrigado!