O respeito pela dignidade humana e a cura das feridas infligidas contra a casa comum são dois aspetos complementares da atual crise que a humanidade enfrenta, atingida pela pandemia de coronavírus, mas também o planeta. Coordenar os esforços de todos para enfrentar estas emergências é o objetivo da nova campanha global da Caritas Internationalis “Together We”, apresentada a 13 de dezembro na pontifícia universidade Urbaniana e anunciada no dia anterior pelo Papa Francisco após o Angelus.
A ambição da campanha é traduzir em ações concretas a “ecologia integral” prefigurada pelo Papa Francisco nas encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti. «Agir hoje para um amanhã melhor» são significativamente as palavras que acompanham esta iniciativa, simbolizada por sete mãos dadas — tantas são as Cáritas regionais que trabalham no âmbito da Caritas Internationalis — ao redor do mundo.
O programa “Together We” será declinado em três fases, complementares entre si e às quais cada um dos próximos três anos será dedicado de modo específico. A primeira fase, explicou o secretário-geral da Caritas Internationalis, Aloysius John, terá como objetivo o aumento da consciência da correlação entre degradação ambiental — por exemplo, o seu impacto sobre a escassez de alimentos e de água — e pobreza, marginalização e desigualdade. Uma obra de sensibilização que deve começar a partir das comunidades de base, tais como povoados e paróquias. Por isso, a segunda fase será dedicada a fazer com que governos, Estados e organizações internacionais «ouçam os clamores dos pobres», de modo a procurar incluir a voz dos marginalizados nas decisões políticas, a fim de criar uma sociedade mais equitativa e justa. Esta fase de passagem da sensibilização para a ação será seguida, em 2024, por uma fase de confronto das experiências amadurecidas pelas comunidades, compartilhando as boas práticas numa semana de encontros no final do ano.
«Esta campanha baseia-se em fundamentos sólidos que perduram há 70 anos», reiterou Aloysius John, recordando o importante aniversário da Caritas Internationalis, que hoje coordena 162 Cáritas locais. Foi precisamente a 14 de dezembro de 1951 que o Papa Pio xii recebeu delegados em representação dos organismos caritativos católicos de 12 nações «que participaram na primeira Assembleia constitutiva da Conferência internacional católica da caridade, que teve lugar em Roma nos dias 12 e 13 deste mês». A notícia da «audiência especial» foi publicada na primeira página de «L’Osservatore Romano» de 15 de dezembro daquele ano, na coluna “Nossas informações”. Na edição do dia seguinte foi anunciado que a Santa Sé tinha aprovado «ad experimentum» o estatuto da Conferência internacional católica da caridade, que realizara a sua Assembleia constitutiva nos dias 12, 13 e 14 de dezembro, no Palácio da Chancelaria apostólica. Participaram representantes das organizações caritativas aprovadas pelos episcopados da Áustria, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Espanha, Estados Unidos e Suíça. Também o representante da Cáritas belga estava presente, como observador.
«Ao longo destes 70 anos a Cáritas — recordou por sua vez o cardeal Luis Antonio Tagle, prefeito da Congregação para a evangelização dos povos e presidente da Caritas Internationalis — deu testemunho da dor, do sofrimento e da degradação causada pela pobreza e imposta às pessoas por atitudes, sistemas e políticas de injustiça e de indiferença, mas também deu testemunho do poder transformador do cuidado, da comunhão e da compaixão».
«Fomos testemunhas da força, sabedoria, dignidade, esperança e alegria que os pobres têm», acrescentou, frisando que a Cáritas está «no coração da Igreja, no coração do mundo, no coração dos pobres».