«Olhar para a pessoa deficiente como para um de nós», colocando-a «no centro do nosso cuidado e da nossa preocupação, mas também da atenção da política». Eis o «objetivo de civilização» indicado na manhã de 13 de dezembro pelo Papa Francisco, ao receber na sala Paulo vi os membros do Instituto Seráfico de Assis, por ocasião do 150º aniversário de atividades.
Caríssimos irmãos e irmãs!
Obrigado por esta visita, com a qual quisestes retribuir a que vos fiz em 2013, por ocasião da minha primeira peregrinação a Assis. E escolhestes vir neste 150º aniversário de fundação do Instituto Seráfico por parte de São Ludovico de Casoria. Uno-me à vossa alegria e à vossa festa!
Em primeiro lugar, um abraço às crianças: as que puderam enfrentar a viagem e as que ficaram em casa. Elas são o centro da vossa missão. Com elas, acolho todos os que as acompanham nas mais diversificadas tarefas, mas também quantos oferecem um apoio cordial a esta grande obra, às famílias das próprias crianças e às instituições. Saúdo o Bispo D. Domenico Sorrentino — incansável, vai a toda a parte: continue assim, Domenico! Agradeço à Presidente Francesca Di Maolo as palavras que me dirigiu. Saúdo os representantes do Instituto Casoria, confiado às filhas espirituais de São Ludovico, as Irmãs Franciscanas Isabelinas “Bigie”. É bom que os dois Institutos, embora distintos, caminhem orientados pela mesma inspiração ideal.
Lembro-me bem da hora que passei convosco em Assis. Eu tinha ido para me pôr nas pegadas do Santo cujo nome escolhi. O encontro com os vossos jovens, que cumprimentei um por um, fez-me reviver de certa forma aquele abraço aos últimos, que distinguiu a vida de São Francisco. Ele fez-se pobre, a exemplo de Jesus, a fim de estar plenamente ao lado dos últimos. O seu abraço a um leproso encerra o significado de toda a sua vida. No Testamento diz que foi precisamente com aquele abraço que começou a sua conversão. Naquelas pessoas doentes e marginalizadas, viu Jesus. Debruçou-se sobre as suas chagas. Colocou-os no centro da atenção da sociedade, também naquela época tentada pela “cultura do descarte”, que concentra a riqueza nas mãos de poucos, enquanto muitos permanecem à margem, sentidos como um peso, dignos apenas de receber uma esmola.
São Ludovico de Casoria, como verdadeiro franciscano, assimilou a mensagem do Pai Seráfico. Na sua caridade criativa e generosa, não pensou duas vezes quando, numa peregrinação a Assis, rezando em frente do Crucifixo, ouviu a sua voz que, com um triplo “sim”, lhe confirmou a inspiração para fundar um instituto dedicado aos cegos e surdos-mudos, categorias naquela época desprovidas da necessária assistência social. A partir de então, o Instituto Seráfico deu grandes passos, crescendo na sua oferta de serviços, a ponto de acolher jovens com deficiências graves e múltiplas, distinguindo-se pelo profissionalismo com que desempenha a sua missão, recebendo o merecido reconhecimento até da comunidade científica.
O mais importante é o espírito com que todos vos dedicais a esta missão. Para vós é claro, como deveria ser para todos, que cada pessoa humana é preciosa, tem um valor que não depende do que possui nem das suas capacidades, mas da simples constatação de ser pessoa, imagem de Deus. Se a deficiência ou a doença tornam a vida mais difícil, ela não é menos digna de ser vivida, e vivida até ao fim. Afinal, quem de nós não tem limitações e não se depara, mais cedo ou mais tarde, com limitações, até graves? É importante olhar para a pessoa deficiente como para um de nós, que deve estar no âmago do nosso cuidado e da nossa preocupação, mas também no centro da atenção de todos e da política. É um objetivo de civilização. Adotando este princípio, sente-se que a pessoa deficiente não só recebe, mas também dá. Cuidar dela não é um gesto unilateral, mas uma troca de dons. Nós, cristãos, encontramos no Evangelho do amor — penso na parábola do bom Samaritano — mais um motivo para tudo isto. Mas o princípio é válido para todos, inscrito como está na consciência, que nos faz sentir a nossa condição de unidade entre todos os seres humanos. Estamos verdadeiramente unidos por um vínculo de fraternidade, como confirmei na Encíclica Fratelli tutti, que eu quis assinar em Assis.
Portanto, é necessário adquirir plena consciência deste princípio e assumir as suas consequências, até quando se trata de distribuir a riqueza comum, a fim de que não aconteça que sejam excluídos precisamente quantos mais precisam de ajuda.
Penso em tantas estruturas que, como vós, prestam este serviço e às vezes têm dificuldade para sobreviver ou para otimizar as suas atividades. Sem dúvida, não se pode pretender tudo dos organismos públicos. É necessária a solidariedade de muitas pessoas, como acontece no caso dos vossos benfeitores. Que o Senhor os abençoe pela sua generosidade. Mas o Estado e a administração pública devem desempenhar a sua parte. Não podemos deixar sozinhas tantas famílias obrigadas a lutar para sustentar crianças em dificuldade, com a grande preocupação do futuro que as espera, quando já não puderem acompanhá-las.
Muitos pais encontram na vossa estrutura uma nova família para os seus filhos. Isto é lindo! Alguns deles estão aqui presentes. O “Seráfico” sabe que eles são parte integrante da sua comunidade e sentem-se felizes por experimentar que os serviços do Instituto não se limitam à assistência profissional, mas asseguram a cada um deles um cuidado personalizado, atencioso e solícito. A lógica do “Seráfico” é o amor, aquele que se aprende com o Evangelho, na escola de São Francisco e de São Ludovico; o amor que sabe ler nos olhos ou nos gestos, antecipa os desejos, não se rende perante as dificuldades, encontra todos os dias a força para recomeçar e regozija-se com cada progresso, até mínimo, da pessoa assistida. A vida é sempre bela, mesmo com poucos recursos. Às vezes pode surpreender. Sei que os vossos jovens sabem fazer muitas coisas, tornando-se pequenos artistas de teatro, rádio ou pintura. Um sorriso deles paga todos os esforços.
Neste período de pandemia enfrentastes momentos difíceis. Mas o próprio facto de terdes organizado uma viagem a Roma com um bom grupo dos vossos jovens — e imagino as dificuldades — transmite-me a medida do vosso esforço e entusiasmo.
Ouvi dizer que nestes últimos anos a iniciativa que naquela época me tínheis anunciado, de fazer da vossa Capela um lugar de adoração eucarística permanente, foi em frente até ser suspensa pela emergência da Covid. Adorar Jesus na Eucaristia e “ouvir” as suas chagas nos mais débeis, como vos disse em 2013, tornou-se o vosso programa. Obrigado!
No vosso Instituto desenvolveu-se também uma escola sociopolítica, para estimular a sociedade a repensar-se a partir dos últimos. Esta escola insere-se bem no quadro da iniciativa Economy of Francesco, contribuindo para renovar a economia na justiça e na solidariedade.
Caros irmãos e irmãs, ide em frente na esteira dos Santos. Que o vosso trabalho tenha sempre o sabor e a alegria da missão. Cada sorriso dos vossos jovens será para vós o sorriso de Deus. Abençoo-vos de coração e peço-vos que oreis por mim. Obrigado!