· Cidade do Vaticano ·

De Chipre uma luz no percurso sinodal

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07 dezembro 2021

De Chipre, falando à pequena, mas animada comunidade católica, o Papa Francisco ofereceu preciosas indicações para o percurso sinodal que a Igreja universal começou recentemente. Recordando a atitude de São Barnabé, padroeiro da ilha, o Papa descreveu a sua fé, equilíbrio e, sobretudo, a paciência. Escolhido para visitar a nova comunidade cristã de Antioquia, composta por novos convertidos do paganismo, o apóstolo confrontou-se com pessoas que provinham de outro mundo, de outra cultura, de outra sensibilidade religiosa. Pessoas que tinham uma fé cheia de entusiasmo, mas ainda frágil. E Barnabé acolheu, ouviu, esperou. Soube esperar que a árvore crescesse, com a paciência «de entrar na vida de pessoas até então desconhecidas; a paciência de acolher a novidade sem formular juízos apressados; a paciência do discernimento, que sabe captar por toda a parte os sinais da ação de Deus». É sobretudo a paciência do acompanhamento, a caraterística que mais impressiona o Papa: uma paciência que «deixa crescer, acompanhando. Não esmaga a fé frágil dos recém-chegados com atitudes rigorosas, inflexíveis, nem com solicitações demasiado exigentes quanto à observância dos preceitos».

A mudança de época que estamos a viver não apresenta porventura algumas semelhanças? Estaremos a atravessar um tempo em que a proclamação do Evangelho está a lutar para iluminar os “outros mundos” e as “outras culturas” em que estamos imersos? Face ao desmoronamento do velho, existe a tentação de nos fecharmos numa atitude nostálgica e queixosa, ou de sonharmos que a Igreja voltará a ser — onde era — “relevante” na cena mundial. Ao contrário, explicou Francisco, a Igreja marcada pela crise de fé, como é hoje a Igreja na Europa, deveria inspirar-se na atitude de Barnabé e começar novamente a anunciar o Evangelho com paciência, especialmente às novas gerações, através do testemunho da misericórdia.

A Igreja da paciência não é estática, mas está aberta à ação imprevisível do Espírito Santo. Não está a homologar, porque sabe que a premissa fundamental para qualquer diálogo é a atitude espiritual da escuta, ou seja, acolher e dar lugar àqueles que têm sensibilidades ou visões diferentes, valorizando a riqueza representada pelas diversidades que o Espírito reconduz à unidade. Acolher o outro para dar lugar ao Outro. É uma Igreja que também discute animadamente, mas que não se divide. Francisco disse em Chipre, falando às diferentes comunidades católicas da ilha, «discute-se, não para se fazer guerra nem para se impor, mas para expressar e viver a vitalidade do Espírito, que é amor e comunhão. Discute-se, mas continuamos irmãos». Precisamente como acontece em família. Este é o caminho a seguir para que o Sínodo não se reduza a ser mais uma obrigação burocrática a ser incluída nos planos pastorais estudados minuciosamente ou nas estratégias de marketing religioso — a variante moderna do proselitismo — mas uma ocasião de viver a fraternidade. «Temos necessidade — disse o Papa — duma Igreja fraterna, que seja instrumento de fraternidade para o mundo».

Andrea Tornielli