· Cidade do Vaticano ·

Discurso do Papa aos participantes numa conferência internacional

O flagelo do trabalho infantil é uma lesão da dignidade humana

 O flagelo do trabalho infantil é uma lesão da dignidade humana  POR-047
23 novembro 2021

Um flagelo que rouba o futuro às crianças e lesa a sua dignidade de seres humanos. Eis a denúncia contra o trabalho infantil que o Papa Francisco fez na manhã de 19 de novembro, recebendo em audiência na sala do Consistório os participantes na conferência internacional, promovida pela Comissão do Vaticano Covid-19, do Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, com a colaboração da Missão permanente da Santa Sé na Fao, que teve lugar na parte da tarde, sobre o seguinte tema: «Erradicar o trabalho infantil, construir um futuro melhor». A seguir, as palavras do Pontífice.

Eminência
Ilustres Senhores e Senhoras
Prezados irmãos e irmãs!

Tenho o prazer de dar as boas-vindas a todos vós aqui reunidos de muitas partes do mundo, apesar das dificuldades devidas à pandemia, para participar na Conferência Internacional «Erradicar o trabalho infantil, construir um futuro melhor», que terá lugar esta tarde no Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

O flagelo da exploração do trabalho infantil, sobre o qual hoje refletis juntos, é de particular importância para o presente e o futuro da nossa humanidade. O modo de nos relacionarmos com as crianças, a medida do nosso respeito pela sua inata dignidade humana e pelos seus direitos fundamentais descrevem que tipo de adultos somos e queremos ser, e que tipo de sociedade desejamos edificar.

É surpreendente e perturbador que nas economias contemporâneas, cujas atividades produtivas recorrem às inovações tecnológicas, a ponto de se falar de “quarta revolução industrial”, em todas as partes do mundo persista o emprego de crianças em atividades de trabalho. Isto põe em perigo a sua saúde, o seu bem-estar psicofísico, privando-as do direito à educação e a viver a infância com alegria e serenidade. A pandemia agravou ainda mais a situação!

O trabalho infantil não deve ser confundido com as pequenas tarefas domésticas que as crianças, no seu tempo livre e segundo a sua idade, podem desempenhar no âmbito da vida familiar, para ajudar pais, irmãos, avós ou outros membros da comunidade. Estas atividades são geralmente benéficas para o seu desenvolvimento, pois permitem-lhes pôr à prova as próprias capacidades e crescer em consciência e responsabilidade. O trabalho infantil é completamente diferente! É exploração das crianças nos processos de produção da economia globalizada, em benefício do lucro e do ganho de outros. É negação do direito das crianças à saúde, à educação, a um crescimento harmonioso, que inclua a possibilidade de brincar e sonhar. Isto é trágico! Uma criança que não pode sonhar, que não pode brincar, não pode crescer. É roubar o futuro às crianças e, portanto, a própria humanidade. É lesão da dignidade humana.

A pobreza extrema, a falta de trabalho e o consequente desespero nas famílias constituem os fatores que mais expõem as crianças à exploração no trabalho. Se quisermos erradicar o flagelo do trabalho infantil, devemos trabalhar juntos para debelar a pobreza, para corrigir as distorções do sistema económico em vigor, que centraliza a riqueza nas mãos de poucas pessoas. Devemos encorajar os Estados e os atores do mundo empresarial a criar oportunidades de trabalho digno com salários equitativos que permitam satisfazer as necessidades das famílias, sem que os filhos sejam obrigados a trabalhar. Devemos unir os nossos esforços para favorecer em todos os países uma educação de qualidade, gratuita para todos, assim como um sistema de saúde acessível a todos indistintamente. Todos os atores sociais são chamados a combater o trabalho infantil e as causas que o determinam. A participação nesta Conferência de representantes das organizações internacionais, da sociedade civil, das empresas e da Igreja é um sinal de grande esperança.

Exorto o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, ao qual compete também a promoção do desenvolvimento das crianças, a dar continuidade à sua obra de estímulo, de facilitação e de coordenação das iniciativas e dos esforços já em curso a todos os níveis, para combater o trabalho infantil.

E a vós, relatores e participantes neste encontro, manifesto a minha gratidão: obrigado por compartilhardes as vossas competências e o vosso compromisso nesta causa, que é uma verdadeira questão de civilização. Encorajo-vos a continuar ao longo deste caminho, sem desanimar perante as inevitáveis dificuldades, mas ampliando cada vez mais a rede de pessoas e organizações envolvidas. Tenhamos sempre presentes as palavras de Jesus no Evangelho: «Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes» (Mt 25, 40).

Confio-vos, bem como as vossas famílias e a vossa obra à intercessão maternal de Maria Santíssima, e abençoo-vos de coração. Obrigado!