«O cuidado da casa comum e a fraternidade e a amizade social» foram os «dois caminhos» indicados pelo Papa Francisco aos participantes no encontro mundial das Comissões justiça e paz das Conferências episcopais, inaugurado a 17 de novembro. O encontro, que decorreu até ao dia 18 em modalidade online, foi dedicado ao tema «As comissões justiça e paz ao serviço do desenvolvimento humano integral na era (pós)Covid: Desafios atuais e perspetivas de futuro à luz da “Laudato si’” e da “Fratelli tutti”». A seguir, o texto da mensagem enviada pelo Pontífice e lido na abertura dos trabalhos pelo cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, prefeito do Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, que organizou o encontro.
Estimados irmãos e irmãs!
Tenho o prazer de vos saudar e desejar-vos sucesso no vosso trabalho. Agradeço ao Cardeal Turkson e aos colaboradores do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral por vos ter convocado, apesar da distância, para compartilhar experiências, avaliações e propostas nesta fase de crise global, à luz das Encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti.
O nosso pensamento dirige-se espontaneamente para São Paulo vi , que pouco depois da conclusão do Concílio Vaticano ii instituiu a Pontifícia Comissão Iustitia et Pax, e para São João Paulo ii , que a reformou em Pontifício Conselho Justiça e Paz. Na sua Encíclica Populorum progressio (1967) — que é de uma atualidade impressionante — após uma reflexão orgânica sobre o desenvolvimento integral da humanidade, o Papa Montini chegou à conclusão de que pode ser considerado «o novo nome da paz» (n. 76). Coerente com esta perspetiva, o Dicastério ao qual confiei a missão de servir o desenvolvimento humano integral assumiu «a solicitude da Santa Sé em relação à justiça e à paz» (Estatuto, Art. 1).
Estou certo de que estes dois Santos Pontífices, através da sua intercessão, continuam a acompanhar o vosso trabalho nas muitas Comissões Justiça e Paz das Conferências episcopais em todo o mundo. Estas Comissões realizam um serviço indispensável no âmbito da pastoral social das Igrejas locais.
Na verdade, têm a tarefa de divulgar e dar a conhecer a doutrina social da Igreja, trabalhando ativamente pela tutela da dignidade da pessoa humana e dos seus direitos, com a opção preferencial pelos pobres e os últimos. Desta forma contribuem para o crescimento da justiça social, económica e ecológica, e para a construção da paz.
Ao levar a cabo esta missão, podeis recorrer amplamente às Encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti, esforçando-vos por conjugá-las de acordo com as diferentes situações locais, nos diversos contextos continentais, regionais e nacionais. De facto, em todas as partes do mundo, o desenvolvimento integral e, por conseguinte, a justiça e a paz, só podem ser construídas através destes dois caminhos: o cuidado da casa comum e a fraternidade e a amizade social. Estes dois caminhos têm origem no Evangelho de Cristo e podemos percorrê-los com tantos homens e mulheres de outras confissões cristãs, de outras religiões e até sem qualquer filiação religiosa em particular.
Por conseguinte, encorajo-vos a continuar este trabalho com esperança, determinação e criatividade. Faço-o sabendo quão desafiador é o contexto atual, marcado pela crise sanitária e social devido à pandemia da Covid-19 e por antigos e novos focos de conflito, ao mesmo tempo que há uma tendência a retroceder em relação aos compromissos assumidos depois das imensas tragédias do século passado.
A crise contemporânea revelou numerosas contradições no sistema económico e político, enquanto persistem desafios por resolver que exigem os esforços conjuntos de muitos atores. Exorto-vos, portanto, a abordar estas questões também em colaboração com outras realidades eclesiais e civis — locais, regionais e internacionais — comprometidas na promoção da justiça e da paz.
Estimados irmãos e irmãs, confio cada um de vós, os vossos colaboradores e familiares ao amparo materno de Maria Santíssima Rainha da Paz, e concedo-vos de coração a Bênção apostólica.
Roma
São João de Latrão
15 de novembro de 2021 memória de Santo
Alberto Magno.
Francisco