· Cidade do Vaticano ·

O Papa aos participantes no encontro interparlamentar em preparação para a Cop26

O meio ambiente precisa de leis urgentes, sábias e justas

 O meio ambiente  precisa de leis urgentes, sábias e justas  POR-042
19 outubro 2021

A fim de tutelar o meio ambiente «são necessárias leis urgentes, sábias e justas, que superem as barreiras estreitas de muitos ambientes políticos», disse o Papa no discurso dirigido aos participantes no Encontro interparlamentar em preparação para a Cop26, recebidos a 9 de outubro na Sala Paulo vi . Promovido pela Itália em colaboração com o Reino Unido, a reunião na perspetiva da Conferência das Nações Unidas sobre o clima, em programa em Glasgow, realizou-se em Roma, no Palácio Montecitorio, nos dias 8 e 9: participaram noventa delegações de deputados e senadores em representação de cerca de setenta países, membros da União interparlamentar, presidida pelo português Duarte Pacheco, com o camaronês Martin Chungong como secretário-geral. Antes do discurso do Pontífice — que publicamos abaixo — Duarte Pacheco e os presidentes do Senado e da Câmara dos deputados da República italiana, Maria Elisabetta Alberti Casellati e Roberto Fico, saudaram-no em nome dos presentes.

Ilustres Senhoras e Senhores!

Dou-vos as boas-vindas e agradeço à Senhora Casellati e ao Senhor Fico as suas amáveis palavras.

Há alguns dias, a 4 de outubro, tive o prazer de me reunir com vários líderes religiosos e cientistas para assinar um Apelo conjunto tendo em vista a Cop26. O impulso para esse encontro, que tinha sido preparado durante meses de intenso diálogo, a «consciência — cito o Apelo — dos desafios sem precedentes que ameaçam a nós e à vida na nossa magnífica casa comum, [... e] da necessidade de uma solidariedade cada vez mais profunda face à pandemia global e à crescente preocupação» por ela (Faith and Science: Towards Cop26 — Apelo conjunto, 4 de outubro de 2021).

Em tal ocasião, animados por um espírito de fraternidade, pudemos perceber uma forte convergência de todas as diferentes vozes na expressão de dois aspetos. Por um lado, a dor pelos graves danos causados à família humana e à sua casa comum; por outro, a necessidade urgente de iniciar uma mudança de rumo capaz de passar decisiva e convincentemente da cultura do descarte, prevalecente na nossa sociedade, para uma cultura de cuidados.

É um desafio exigente e complexo, mas a humanidade tem os meios para enfrentar esta transformação, que requer uma verdadeira conversão e a vontade firme de a empreender. Exige isso em particular daqueles que são chamados a cargos de grande responsabilidade nos vários âmbitos da sociedade.

No apelo conjunto que assinámos, e que idealmente vos confio, entregando-o aos Presidentes das duas Câmaras do Parlamento italiano, há muitos compromissos que pretendemos assumir no campo da ação e do exemplo, bem como no campo da educação. De facto, estamos perante um importante desafio educacional, pois «cada mudança precisa de um caminho educacional para fazer amadurecer uma nova solidariedade universal e uma sociedade mais acolhedora» (Mensagem para o lançamento do Pacto Educativo, 12 de setembro de 2019). Um desafio a favor de uma educação para a ecologia integral em que nós, representantes das religiões, estamos fortemente comprometidos.

Ao mesmo tempo, apelamos aos governos para que adotem rapidamente um caminho que limite o aumento da temperatura média global e promovam uma ação corajosa, reforçando também a cooperação internacional. Especificamente, apelamos a fim de que promovam a transição para a energia limpa; a adotar práticas sustentáveis de utilização da terra que preservem as florestas e a biodiversidade; a favorecer sistemas alimentares que respeitem o meio ambiente e as culturas locais; a continuar a luta contra a fome e a subnutrição; e a apoiar estilos de vida, consumo e produção sustentáveis.

Trata-se de uma transição para um modelo de desenvolvimento mais integral e integrante, baseado na solidariedade e na responsabilidade, durante o qual os efeitos que terá no mundo do trabalho devem também ser cuidadosamente considerados.

Neste desafio, todos têm o próprio papel a desempenhar, e o dos parlamentares é particularmente significativo, diria, decisivo. Uma mudança de rumo tão exigente como a que temos perante nós requer grande sabedoria, clarividência e sentido do bem comum, que são virtudes fundamentais da boa política. Vós, parlamentares, como principais atores na atividade legislativa, tendes a tarefa de orientar o comportamento através dos vários instrumentos oferecidos pelo direito, «que estabelece as regras de conduta permitida à luz do bem comum» (Carta Encíclica Laudato si’, 177) e com base noutros princípios fundamentais, tais como a dignidade da pessoa humana, solidariedade e subsidiariedade (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 160 e seguintes). O cuidado da nossa casa comum insere-se naturalmente no âmbito destes princípios. Obviamente, não se trata apenas de desencorajar e penalizar as más práticas, mas também e sobretudo de encorajar e estimular novos caminhos que estejam mais de acordo com o objetivo a alcançar. Isto é essencial se quisermos atingir os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris e contribuir para o sucesso da Cop26.

Portanto, espero que o vosso árduo trabalho na preparação para a Cop26 e inclusive depois dela seja iluminado por dois faróis importantes: o farol da responsabilidade e o farol da solidariedade. Devemo-lo aos jovens, às gerações futuras que merecem todos os nossos esforços para viver e ter esperança. Para tal, precisamos de leis urgentes, sábias e justas que superem as barreiras estreitas de muitos ambientes políticos e possam chegar a um consenso apropriado o mais rapidamente possível, utilizando meios fiáveis e transparentes.

Mais uma vez obrigado pela vossa visita! Deus abençoe a vós, as vossas famílias e o vosso trabalho!