Há tanta luz na festa da Assunção de Maria ao céu que é difícil manter os olhos abertos. É o cansaço que sentimos perante o Mistério que nunca conseguimos domar até ao fim na fórmula certa, na teologia mais abrangente. Por muito que tentemos dar voz e corpo aos dogmas cristãos (incluindo aqueles que se referem especificamente a Maria), a única coisa que resta é poder vislumbrar algo desse Mistério sob uma luz imensa. É por isso que poderíamos dizer que a festa da Assunção de Maria ao céu é uma daquelas festas que evangelizam o olho. É para cima que temos de olhar. «Nascemos e nunca mais morreremos», escreveu aquela extraordinária mulher chamada Chiara Corbella que nos deixou um bonito testemunho de mulher, esposa, mãe, amiga. Porque a morte é apenas aquela direção do céu que tomamos com uma corrida um pouco misteriosa e assustadora. Maria que chega ao céu lembra-nos que este é o nosso destino, ou seja, é a nossa predestinação. E é por isso que Maria é para cada um de nós um “sinal seguro de esperança”, porque olhando para ela compreendemos um pouco do que nós também acabaremos por fazer.
A liturgia que acompanha a festa de hoje fez-nos ler um trecho do evangelista Lucas que relata o encontro entre Maria e a sua prima Isabel (Lc 1, 39-56). É um encontro em que o efeito secundário se chama alegria: «Logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio», diz Isabel, e Maria responde: «A minha alma glorifica ao Senhor». O sinal distintivo de que fomos feitos para o céu pode ser visto na alegria que sentimos e temos em nós. Um cristão ou é um portador de alegria ou não é um cristão. Não a alegria de sorrir, mas a alegria de saber que se é definitivamente amado. É a alegria daqueles que são capazes de ver que Deus derruba os poderosos dos seus tronos e eleva os humildes. Dá a conhecer aos humildes e confunde os soberbos. Providencia por aqueles que se reconhecem pobres e deixa de boca vazia aqueles que se julgam suficientes a si mesmos. A festa de hoje, então, como uma segunda Páscoa toda mariana, ilumina o nosso destino com uma luz de esperança. Esta luz, porém, não é apenas uma luz que nos fala do futuro, mas uma luz que nos fala do aqui e agora. De facto, é precisamente pensando em Maria que toda a nossa vida ganha agora uma nova profundidade. Justamente Dante diz referindo-se a Maria: «Tu és uma fonte viva de esperança».
Um último aspeto diz respeito ao “escândalo do corpo”. Enquanto pensarmos na fé e na vida espiritual como algo que toca apenas a nossa alma, o nosso princípio espiritual, interior, não diferiremos muito de outras experiências religiosas. Mas a fé cristã é a fé no «corpo do Ressuscitado», é a fé na ressurreição da carne. O facto de Maria estar no céu não só com a sua alma, mas com o seu corpo, questiona-nos profundamente sobre a nossa fé na ressurreição. O cristianismo baseia-se ou coincide precisamente com isto: o escândalo do nosso corpo que não é, como Platão disse, «o túmulo da alma», mas sim «templo do Espírito Santo» (1 Cor 6, 13), que também está, portanto, à espera da redenção. Por conseguinte, poderíamos acrescentar que hoje é a festa da reconciliação com o nosso corpo.
Luigi Maria Epicoco