· Cidade do Vaticano ·

Mensagem do Santo Padre ao capítulo geral da ordem dos Frades menores

No sinal de São Francisco para “fazer misericórdia” com os últimos

 No sinal de São Francisco  para “fazer misericórdia” com os últimos  POR-030
27 julho 2021

«Nas raízes da vossa espiritualidade está» o encontro de Francisco «com os últimos e os sofredores, no sinal do “fazer misericórdia”... A renovação da vossa visão só pode começar a partir deste novo olhar com o qual contemplar o irmão pobre e marginalizado», escreveu o Papa na mensagem que enviou aos participantes no capítulo geral da ordem franciscana dos Frades menores, que teve lugar de 3 a 18 de julho em Roma sobre o tema: «Renovar a nossa visão, abraçar o nosso futuro».

Estimados irmãos!

Saúdo com afeto todos vós que participais no Capítulo Geral da Ordem dos Frades Menores. Dirijo os meus agradecimentos ao padre Michael A. Perry, que concluiu o seu serviço como Ministro-Geral, e apresento os meus melhores votos ao padre Massimo Giovanni Fusarelli, que foi chamado a suceder-lhe. Estendo as minhas saudações a todas as vossas comunidades no mundo inteiro.

Há muitos meses, devido à pandemia, que nos encontramos a viver em situações de emergência, isolamento e sofrimento. Esta experiência crítica, por um lado, encoraja-nos todos a reconhecer que a nossa vida terrena é um percurso a ser percorrido como peregrinos e forasteiros, homens e mulheres itinerantes, dispostos a aliviar-nos de coisas e pretensões pessoais. Penso nas vossas comunidades, chamadas a ser humilde presença profética no meio do povo de Deus e testemunha da fraternidade e de uma vida simples e alegre para todos.

Neste tempo difícil e complexo, em que existe o risco de ficar “paralisado”, no entanto, experimentais a graça de celebrar o Capítulo Geral ordinário, e isto já é motivo de louvor e de ação de graças a Deus. Neste Capítulo propondes-vos “renovar a vossa visão” e “abraçar o vosso futuro”. Guiam-vos as palavras de São Paulo: «Levanta-te... e Cristo te iluminará» (Ef 5, 14). É uma palavra de ressurreição, que vos enraíza na dinâmica pascal, porque não há renovação e não há futuro a não ser em Cristo ressuscitado. Com gratidão, portanto, abri-vos para acolher os sinais da presença e da ação de Deus e para redescobrir o dom do vosso carisma e da vossa identidade fraterna e minoritária.

Renovar a própria visão: foi o que aconteceu ao jovem Francisco de Assis. Ele próprio atesta-o, narrando a experiência que, no seu Testamento, coloca no início da sua conversão: o encontro com os leprosos, quando «aquilo que me parecia amargo se me converteu em doçura de alma e de corpo» (Test 1-4). Nas raízes da vossa espiritualidade está este encontro com os últimos e os sofredores, no sinal do “fazer misericórdia”. Deus tocou o coração de Francisco através da misericórdia oferecida ao irmão e continua a tocar os nossos corações através do encontro com os outros, especialmente com os mais necessitados. A renovação da vossa visão só pode começar a partir deste novo olhar com o qual contemplar o irmão pobre e marginalizado, sinal, quase sacramento da presença de Deus.

Deste olhar renovado, desta experiência concreta de encontro com o próximo e com as suas chagas, pode surgir uma nova energia para olhar rumo ao futuro como irmãos e como menores, como vós sois, segundo o bonito nome de “frades menores”, que São Francisco escolheu para ele mesmo e para vós.

A força renovadora de que necessitais vem do Espírito de Deus, daquela «santa operação» (Regra bulada 10, 8), que é o sinal inequívoco da sua ação. Aquele Espírito, que transformou a amargura do encontro de Francisco com os leprosos em doçura de alma e de corpo, ainda hoje age para dar novo vigor e energia a cada um de vós, se vos deixardes provocar pelos últimos do nosso tempo. Encorajo-vos a sair ao encontro dos homens e das mulheres que sofrem no corpo e na alma, a oferecer a vossa presença humilde e fraterna, sem grandes discursos, mas fazendo sentir a vossa proximidade como irmãos menores. Ir rumo a uma criação ferida, a nossa casa comum, que sofre de uma exploração distorcida dos bens da terra para o enriquecimento de poucos, criando ao mesmo tempo condições de miséria para muitos. Ir como homens de diálogo, procurando construir pontes e não muros, oferecendo o dom da fraternidade e da amizade social num mundo que luta para encontrar o rumo de um projeto comum. Ir como homens de paz e reconciliação, convidando à conversão do coração quantos semeiam ódio, divisão e violência, e oferecendo às vítimas a esperança que vem da verdade, da justiça e do perdão. A partir destes encontros, recebereis um impulso para viver cada vez mais plenamente o Evangelho, segundo aquela palavra que é o vosso caminho: «A Regra e vida dos Frades Menores é esta, a saber: observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo» (Regra bulada 1, 1).

Dado que grande parte da Ordem enfrenta os desafios do declínio numérico e do envelhecimento, não deixeis que a ansiedade e o medo vos impeçam de abrir os corações e as mentes à renovação e à revitalização que o Espírito de Deus suscita em vós e entre vós. Tendes uma herança espiritual de riqueza inestimável, enraizada na vida evangélica e marcada pela oração, fraternidade, pobreza, menoridade e itinerância. Não vos esqueçais que um olhar renovado, capaz de nos abrir ao futuro de Deus, recebemo-lo da proximidade aos pobres, às vítimas da escravidão moderna, aos refugiados e aos excluídos deste mundo. Eles são os vossos mestres. Abraçai-os como fez São Francisco!

Queridos irmãos, que o Altíssimo, Todo-Poderoso, Bom Senhor vos torne testemunhas do Evangelho cada vez mais credíveis e jubilosas; que vos conceda uma vida simples e fraterna; e que vos conduza pelos caminhos do mundo para lançar a semente da Boa Nova com fé e esperança. Por isto rezo e acompanho-vos com a minha Bênção. E também vós, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim!

Roma, São João de Latrão
15 de julho de 2021.

FRANCISCO