Em Cruzeiro do Sul, no estado brasileiro do Acre, o bispo confiou aos Salesianos
a pastoral juvenil de toda a cidade

Um oratório contra a droga

 Um oratório contra a droga  POR-028
13 julho 2021

E o padre Roberto Cappelletti desempenha uma tarefa específica


Apesar de todas as nefandades e horrores que os seres humanos são capazes de cometer, o mundo continua a não afundar porque a lógica da geração, que dá origem à felicidade dos outros, dá vida e futuro à família humana, desenhando o enredo secreto e indestrutível da história. A geração dos milagres diários do ágape que mantêm os seres humanos vivos está no seio de Deus.

No estado brasileiro do Acre, em território amazónico, em Cruzeiro do Sul, uma pequena cidade de cem mil habitantes, está prestes a nascer uma nova presença missionária que trará boa vida ao mundo para dezenas de crianças e jovens expostos a muitos perigos. O padre Roberto Cappelletti, 50 anos, salesiano, está comprometido neste belo trabalho. Viveu durante seis anos em duas missões no Alto Rio Negro, tomando conta dos nativos que viviam em pequenas aldeias na floresta. Foi então transferido para o estado amazónico de Rondônia, para Porto Velho, cidade de 500.000 habitantes, onde é responsável por uma paróquia, o oratório e as atividades promovidas para crianças e jovens. Daqui, todos os meses, percorre 1200 quilómetros de estrada acidentada até Cruzeiro do Sul para preparar a nova missão desejada pelo bispo local, o salesiano Flavio Giovenale: «O drama desta cidade confinante com o Peru é o tráfico maciço de droga: quando os jovens abandonam ou terminam os estudos e não conseguem encontrar trabalho, são frequentemente alistadas pelos traficantes de droga», diz o padre Roberto. «Na região amazónica existem famílias sólidas e unidas, atentas à educação dos seus filhos, mas muitas famílias são frágeis. Os filhos, muitas vezes negligenciados, procuram ganhar dinheiro fácil com drogas. A pobreza é generalizada: a agricultura e a criação de gado — principais atividades — estão nas mãos de poucos e muito ricos proprietários de terras que infelizmente reservam salários humilhantes para os seus trabalhadores».

O bispo Juvenal confiou aos Salesianos a pastoral juvenil de toda a cidade de Cruzeiro do Sul e o cuidado dos reclusos do reformatório local. O objetivo do padre Roberto é abrir um oratório para acolher crianças e jovens e criar cursos profissionais para que os jovens possam encontrar trabalho ou abrir uma pequena atividade. Em particular, haverá cursos de padeiro, cozinheiro, esteticista, instaladores e técnicos em sistemas elétricos. O oratório será construído na área do antigo grande seminário, onde já existe um campo de futebol e outro coberto para basquetebol e voleibol. Nestas semanas, as instalações que acolherão a comunidade salesiana e as várias atividades do oratório estão a ser renovadas. Noutra zona da cidade, a Cáritas local disponibilizou um barracão, também em fase de renovação, que albergará as salas de aula. O trabalho estará concluído dentro de alguns meses e já em dezembro será possível começar a recolher as inscrições. «A partir de janeiro do próximo ano devo partir e viver permanentemente em Cruzeiro do Sul. Espero que a Província salesiana de Manaus, à qual pertenço, e a congregação enviem pelo menos dois confrades: desta forma poderemos criar uma pequena comunidade», diz o padre Roberto, que neste período está a avaliar quais iniciativas propor nas escolas da cidade; de facto, foi-lhe dito que os professores, preocupados com o futuro das crianças, estão muito interessados em acolher os missionários e as suas propostas educativas. «Penso que esta cidade vai funcionar bem, as congregações religiosas estão contentes com a chegada dos Salesianos», continua ele: «O presidente da câmara e o conselheiro para as políticas de juventude, ambos católicos e comprometidos na vida da Igreja local, estão muito dispostos e abertos a qualquer iniciativa que possa apoiar as gerações mais jovens».

Entretanto, em Iaureté (no Alto Rio Negro), o padre Roberto quase concluiu a construção de uma casa que será em parte destinada a abrigar a comunidade religiosa, e em parte reservada para acolher as crianças que, especialmente aos fins-de-semana, vivem nas ruas, deixadas a si próprias porque os seus pais embebedam-se. Ao mesmo tempo, em Porto Velho, onde escolas e oratórios estão temporariamente fechados devido à pandemia, o padre, juntamente com os Salesianos Cooperadores, lançou, graças ao apoio da Fundação Obra Dom Bosco de Milão, um projeto de adoções à distância: com os fundos angariados, são apoiadas as famílias mais necessitadas, a quem são regularmente entregues alimentos e medicamentos, e nalguns casos são também pagas visitas médicas.

«Quando vivi o meu sacerdócio em Itália, no Verão acompanhei os jovens a Madagáscar. Durante essas viagens, compreendi que a vocação missionária me pertencia e pedi aos meus superiores para partir», diz o padre Roberto. «Desde então tenho vivido sempre entre as populações do Brasil, às quais estou profundamente ligado. A abertura de uma nova presença salesiana em Cruzeiro do Sul é uma aventura emocionante, mesmo que as dificuldades não faltem. Mas na escola de Dom Bosco aprendi a trabalhar e a confiar sempre no Senhor. Sonho que o oratório que estamos a construir também se possa tornar itinerante: gostaria que muitas atividades tivessem lugar também nos bairros mais pobres e periféricos. As crianças e os jovens desta cidade, que o Senhor olha com amor ilimitado, precisam de ser acompanhados, guiados, apoiados, precisam de alguém que os ajude a construir uma vida boa. Trabalharei na prossecução deste objetivo juntamente com todos aqueles que querem dar uma mão: a aliança dos adultos para o bem dos jovens é crucial».

Cristina Uguccioni