· Cidade do Vaticano ·

O Papa Francisco entre nós por ocasião dos 160 anos de L’Osservatore Romano e dos 90 da Rádio Vaticano

Francisco visitou os meios
de comunicação do Vaticano

Filomeno Lopez, do programa em português da Rádio Vaticano, oferece ao Papa um livro da sua autoria
26 maio 2021

Durante a transmissão ao vivo na rádio

O nosso trabalho é chegar a todos


Durante a transmissão radiofónica ao vivo, ao responder às perguntas que lhe foram dirigidas, o Papa pronunciou as seguintes palavras. 

Obrigado pelo vosso trabalho, pelo que fazeis. Tenho apenas uma preocupação — há muitas razões para estar preocupado com a Rádio, com “L’Osservatore Romano” — mas uma toca mais o meu coração: quantos ouvem a Rádio, e quantos leem “L’Osservatore Romano”? Pois o nosso trabalho é chegar ao povo: aquilo que aqui se faz, que é belo, grande, cansativo, chegue ao povo, tanto com as traduções, como também com as ondas curtas, como o senhor disse... A pergunta que vos deveríeis formular é: “Quantos? A quantos chega?” pois há o perigo — para todas as organizações — o perigo de uma bela organização, um bom trabalho, mas que não chega onde deve chegar... Um pouco como a história do nascimento do rato: a montanha que dá à luz um ratinho... Todos os dias, fazei-vos esta pergunta: a quantas pessoas chegamos? A quantas pessoas chega a mensagem de Jesus através de “L’Osservatore Romano”? Isto é muito importante, muito importante!


Na Sala Marconi

Funcional se for criativo 


Por fim, durante o encontro na Sala Marconi, o Pontífice disse estas palavras.

Muito obrigado pelo vosso trabalho. Sinto-me feliz, vi todos vós juntos aqui. Vi este Palácio bem arranjado, e gostei. A unidade do trabalho... O problema é se este sistema grande e complicado funciona. Lembro-me de um costume na Argentina, quando alguém era nomeado para um cargo importante, a primeira coisa que fazia era ir à Nordiska, uma empresa que se ocupava de arquitetura de interior, sem ter visto a sua escrivaninha, o seu estúdio, mandava fazer tudo novo, tudo perfeito, bonito. Era a primeira decisão que aquele ministro, aquele funcionário, tomava. Depois, não funcionava. O importante é que toda esta beleza, toda esta organização funcione. Funcionar significa ir, caminhar... O grande inimigo do bom funcionamento é o funcionalismo. Por exemplo, sou o chefe de uma secção, sou o secretário dessa secção, o chefe. Mas tenho sete subsecretários. Sempre tudo bem. Alguém tem uma dificuldade, vai ter com o subsecretário que a deve resolver, mas ele diz: “Espera um minuto, depois volto a contactar-te”. Vai e telefona ao secretário... Ou seja, são inúteis. Incapazes de tomar decisões, incapazes de assumir uma responsabilidade. O funcionalismo é letal. Adormece uma instituição, e mata-a. Estai atentos a não cair nisto: não importa quantos lugares há, se o estúdio é bonito ou não. Importa que funcione, que seja funcional, e não uma vítima do funcionalismo. Estai muito atentos, muito atentos a isto. E quando algo é funcional, ajuda a criatividade. O vosso trabalho deve ser criativo, sempre, e ir além, além, além: criativo. Isto chama—se funcionar. Mas se um trabalho é muito bem organizado acaba por ficar enjaulado e não ajuda. Isto é a única coisa que, ao ver uma organização tão bonita, tão bem feita, vendo-vos todos juntos, digo-vos: estai atentos! Nenhum funcionalismo. Sim, funcional no trabalho, o que deveis fazer. E para que uma estrutura seja funcional, todos devem ter liberdade suficiente para funcionar. Que haja a capacidade de correr riscos sem ter que pedir autorização, autorização, autorização...: isto paralisa. Funcional, não funcionalista. Compreendestes? Ide em frente e sede corajosos. Obrigado!