Um serviço com raízes
Em 1944, em plena segunda guerra mundial, Pio xii publicou a encíclica Mystici corporis, dedicada à Igreja Corpo místico de Cristo. Numa passagem, depois de ter recordado que os Padres da Igreja, «quando louvam os ministérios, os graus, as profissões, os estados, as ordens e os ofícios deste Corpo», têm em mente também os leigos, e os leigos casados, o Pontífice acrescentou: «Que, ao contrário, especialmente nas condições atuais, os pais e as mães de família, os padrinhos e as madrinhas de batismo, e em particular os leigos que colaboram com a hierarquia eclesiástica na propagação do reino do divino Redentor, ocupam na sociedade cristã um lugar de honra, por mais escondido que seja, e também eles, inspirados e assistidos por Deus, podem ascender ao ápice da mais elevada santidade que, segundo as promessas de Jesus Cristo, nunca faltará na Igreja».
A decisão de Francisco de instituir o ministério laical do catequista, que segue a abertura às mulheres do ministério do acolitado e do leitorado, insere-se no caminho já intuído pelo Papa Pacelli: especialmente no nosso tempo, a tarefa de testemunhar e de transmitir a fé às novas gerações é uma tarefa para «os pais e as mães de família». Já ao longo dos séculos e ainda hoje em vários países, na falta de sacerdotes, a fé manteve-se viva graças aos pais e às mães, bem como aos catequistas que dedicaram e muitas vezes sacrificaram a própria vida por isto. No entanto, hoje a participação, o reconhecimento e a plena valorização dos leigos constitui uma urgência e muitas vezes uma necessidade nas sociedades secularizadas.
O Motu proprio Antiquum ministerium inspira-se no Decreto conciliar Ad gentes, onde os padres do Vaticano ii afirmavam: «Digno de elogio é aquele exército com tantos méritos na obra das missões entre pagãos, o exército dos catequistas, homens e mulheres que, cheios de espírito apostólico, prestam com grandes trabalhos uma ajuda singular e absolutamente necessária à expansão da fé e da Igreja. Hoje em dia, em razão da escassez de clero para evangelizar tão grandes multidões e exercer o ministério pastoral, o ofício dos catequistas tem muitíssima importância». Uma consciência que aumentou nos anos seguintes e culminou com a Carta apostólica Evangelii nuntiandi, de Paulo vi.
Da instituição de novos ministérios laicais, para responder às novas exigências falou-se inclusive no recente Sínodo sobre a Amazónia, evocando em particular o Motu proprio Ministeria quaedam, o documento com que o Papa Montini, em 1972, reformou os ministérios na Igreja. Na ótica que emergiu do Concílio, dos Sínodos, realçada no Magistério dos Sucessores de Pedro e em particular hoje, pelo atual Bispo de Roma, os leigos não são, portanto, chamados a realizar somente uma obra de suplência devido à falta de vocações para o sacerdócio. Não se trata de suplência, mas de ação plena e reconhecida, de participação e corresponsabilidade: a sua presença é verdadeiramente necessária para que a Igreja seja comunhão e seja missionária.
A instituição de um ministério por parte da Igreja torna evidente que a pessoa investida daquele carisma desempenha um autêntico serviço eclesial à comunidade cristã, para o crescimento da sua vida e para o seu testemunho de fé. Por conseguinte, a instituição de um ministério laical não visa “clericalizar” o leigo. É desejável que este passo adicional ajude a impedir o regresso do clericalismo tantas vezes denunciado publicamente por Francisco que, recordando-nos com frequência o papel do povo santo de Deus, o papel das avós e das mães na transmissão da fé, atualiza as palavras de Pio
Andrea Tornielli