· Cidade do Vaticano ·

O arcebispo Paul R. Gallagher na conferência organizada pela ue e pela ONU

Para a Síria não servem ajudas imediatas
mas soluções a longo prazo

A displaced Syrian woman collects plates of food prepared by a local charity for the Ramadan ...
20 abril 2021

Publicamos o discurso proferido a 30 de março pelo arcebispo Paul R. Gallagher, secretário para as Relações com os Estados, na conferência online sobre o tema «Supporting the future of Syria and the Region», organizada pela União europeia e pelas Nações unidas.

Excelências

Ilustres Delegados!

Estamos aqui hoje, mais uma vez, para reafirmar o nosso compromisso para com o povo da Síria. Todos os anos reconhecemos a necessidade urgente de encontrar soluções oportunas e viáveis para esta situação dramática. Estamos todos bem cientes de que o povo sírio precisa do nosso apoio para poder reconstruir-se. Sabemos que os sinais visíveis de esperança e solidariedade são o único remédio para os ajudar a reconquistar a confiança no seu país e no seu futuro. São o único antídoto para o cansaço e o desespero. E, no entanto, aqui estamos nós de novo. Foi difícil, quase impossível, seguir em frente. Como podemos dar às pessoas aquilo de que tão desesperadamente necessitam? Esta é a questão urgente que enfrentamos hoje.

Nestes dez anos de conflito na Síria, a Igreja católica deu particular importância à sua resposta às necessidades humanitárias da população. Mais de oitenta instituições católicas estão a intervir em vários sectores em solidariedade com uma variedade de atores e instituições na Síria e países vizinhos, empregando cerca de 6.000 profissionais e mais de 8.000 voluntários, além da rede de sacerdotes e religiosos presentes nos vários territórios. A ajuda humanitária para a região não pode continuar a ser destinada apenas à satisfação de necessidades imediatas. Hoje mais do que nunca, há necessidade de programas de reabilitação, pacificação e desenvolvimento a médio e longo prazo. Tais programas são necessários para reconstruir o tecido social do país e para iniciar a sua recuperação económica.

Em dez anos de conflito, a rede eclesial comprometeu quase 2 biliões de dólares americanos, destinados a alcançar cerca de 4,5 milhões de beneficiários por ano (dos quais cerca de metade, mais de 2 milhões só na Síria). Contudo, face às imensas necessidades e sofrimento do povo sírio, toda esta ajuda é um mero “aqueduto” de água no deserto, como relatou o cardeal Mario Zenari, Núncio Apostólico na Síria, durante o seu encontro com o Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé no dia 15 de outubro do ano passado.

Neste momento, a ajuda da comunidade internacional continua a ser urgente e necessária, mas não é uma solução adequada a longo prazo. Queremos construir a paz na Síria? Então devemos começar a orientar “canais” significativos e adequados de recursos para a construção de hospitais, escolas, casas, fábricas e para o relançamento da economia. As soluções existem, mas a paz na Síria não será alcançada sem reconstrução e um impulso para reiniciar a economia. Devemos encontrar um caminho para ir em frente.

«A paz não exige vencedores nem vencidos, mas irmãos e irmãs que, não obstante as incompreensões e as feridas do passado, passem do conflito à unidade», disse o Papa Francisco no início de março durante a sua visita ao Iraque, durante o encontro inter-religioso na Planície de Ur (Discurso, 6 de março de 2021).

Gostaria de concluir, mais uma vez, reiterando as recentes palavras proferidas pelo Papa Francisco a 14 de março último, quando apelou a um compromisso decisivo e renovado por parte da comunidade internacional, para que aqueles que estão em conflito deponham as armas e permitam que o tecido social na Síria seja recomposto e que a reconstrução e a recuperação económica comecem a sério. Que o sofrimento indescritível da nossa amada e martirizada Síria não seja esquecido e que a nossa solidariedade reavive uma nova esperança (cf. Angelus, 14 de março de 2021).