A fraternidade é mais
O terceiro dia da viagem do Papa ao país árabe começou com a visita a Erbil, no norte do Iraque. Tendo chegado de avião na manhã de domingo, 7 de março, numa sala do aeroporto da cidade Francisco encontrou-se com o presidente, com o primeiro-ministro da região autónoma do Curdistão iraquiano e com os arcebispos locais caldeu e sírio. A seguir, deslocou-se de helicóptero para Mossul e, de automóvel, foi à Hosh-al Bieaa, a praça das quatro igrejas destruídas de 2014 a 2017 por vários ataques terroristas. Ali o Papa presidiu à oração pelas vítimas da guerra, introduzida por alguns testemunhos, aos quais se seguiram as seguintes palavras do Pontífice.
Queridos irmãos e irmãs,
Caros amigos!
Agradeço ao Arcebispo D. Najeeb Michaeel as suas palavras de boas-vindas e estou particularmente grato ao Padre Raid Kallo e ao senhor Gutayba Aagha pelos seus comoventes testemunhos.
Muito obrigado, Padre Raid, por nos ter falado do deslocamento forçado de muitas famílias cristãs das suas casas. A trágica redução dos discípulos de Cristo, aqui e em todo o Médio Oriente, é um dano incalculável não só para as pessoas e comunidades envolvidas, mas também para a própria sociedade que eles deixaram para trás. Com efeito, um tecido cultural e religioso assim rico de diversidade é enfraquecido pela perda de qualquer um dos seus membros, por menor que seja, como, num dos vossos artísticos tapetes, um pequeno fio rebentado pode danificar o conjunto. Padre, falou da experiência fraterna que vive com os muçulmanos, depois de ter regressado a Mossul. Aqui encontrou acolhimento, respeito, colaboração. Obrigado, Padre, por ter compartilhado estes sinais que o Espírito faz florir no deserto e ter mostrado que é possível esperar na reconciliação e numa vida nova.
Senhor Aagha, lembrou-nos que faz parte da verdadeira identidade desta cidade a convivência harmoniosa entre pessoas de diferentes origens e culturas. Por isso, muito me alegro com o seu convite à comunidade cristã para voltar a Mossul e assumir o papel vital que lhe cabe no processo de regeneração e renovamento.
Hoje, todos erguemos as nossas vozes em oração a Deus Todo-Poderoso por todas as vítimas da guerra e dos conflitos armados. Aqui em Mossul, saltam à vista as trágicas consequências da guerra e das hostilidades. Como é cruel que este país, berço de civilizações, tenha sido atingido por uma tormenta tão desumana, com antigos lugares de culto destruídos e milhares e milhares de pessoas (muçulmanas, cristãs, yazidis — que foram aniquiladas cruelmente pelo terrorismo — e outras) deslocadas à força ou mortas!
Hoje, apesar de tudo, reafirmamos a nossa convicção de que a fraternidade é mais forte que o fratricídio, que a esperança é mais forte que a morte, que a paz é mais forte que a guerra. Esta convicção fala com uma voz mais eloquente do que a do ódio e da violência; e jamais poderá ser sufocada no sangue derramado por aqueles que pervertem o nome de Deus ao percorrer caminhos de destruição.