«Irmãs e irmãos. Esta é a palavra: irmãs e irmãos». Com esta saudação o Papa Francisco interveio na celebração — realizada de modo virtual — do primeiro Dia internacional da fraternidade humana, instituído pelas Nações Unidas, e da apresentação dos dois vencedores do primeiro prémio Zayed da Fraternidade Humana.
Com o Papa interveio o grão-imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, que a 4 de janeiro de há dois anos, em Abu Dhabi, assinou precisamente com o Pontífice o Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum.
A 4 de fevereiro, o evento foi transmitido em streaming, com legendas em várias línguas, pelo Vatican News e difundido pelos meios de comunicação social do Vaticano.
Precisamente durante este encontro virtual — organizado pelo xeque Mohammed Bin Zayed em Abu Dhabi — foi atribuído o prémio Zayed ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e a Latifa Ibn Zaiaten, que nas periferias e prisões francesas conseguiu transformar a dor da morte violenta do filho na experiência de ser “segunda mãe” para muitos jovens, prevenindo radicalismos.
Um júri independente, escolhido pelo Alto Comité para a Fraternidade Humana, estabeleceu a atribuição do prémio, que se inspira no Documento assinado em Abu Dhabi, destacando histórias concretas.
Discurso de Francisco
Durante o encontro, o Pontífice proferiu este discurso.
Irmãs e irmãos. Esta é a
palavra: irmãs e irmãos.
Afirmar a fraternidade.
Agradeço de modo especial a Vossa Excelência, meu irmão, meu amigo, meu companheiro de desafios e riscos na luta pela fraternidade, Grão-Imã Ahmed Al-Tayyeb, a companhia no caminho para a reflexão e a elaboração do Documento que foi apresentado há dois anos. O seu testemunho ajudou-me muito porque foi um testemunho corajoso. Sei que não foi uma tarefa fácil. Mas com Vossa Excelência conseguimos cumpri-la e ajudar-nos reciprocamente. O mais importante é que aquele primeiro desejo de fraternidade foi consolidado com verdadeira fraternidade. Obrigado, irmão, obrigado!
Gostaria de agradecer também a Sua Alteza o Xeque Mohammed bin Zayed por todos os esforços que fez para que pudéssemos prosseguir neste caminho. Ele acreditou no projeto. Acreditou!
E penso que é correto agradecer também — permita-me, Senhor Juiz, a expressão — “l’enfant terrible” de todo este projeto, o juiz Abdel Salam, amigo, trabalhador, cheio de ideias, que nos ajudou a ir em frente.
Obrigado a todos por ter apostado na fraternidade, porque hoje a fraternidade é a nova fronteira da humanidade. Ou somos irmãos ou destruímo-nos uns aos outros.
Hoje não há tempo para a indiferença. Não podemos lavar as mãos à distância, com desprezo, com desinteresse. Ou somos irmãos — permiti-me — ou tudo se desmorona. É a fronteira. A fronteira sobre a qual devemos construir; é o desafio do nosso século, é o desafio dos nossos tempos.
Fraternidade significa mão estendida; fraternidade quer dizer respeito. Fraternidade significa ouvir com o coração aberto. Fraternidade quer dizer firmeza nas próprias convicções. Pois não há verdadeira fraternidade se negociarmos as nossas convicções.
Somos irmãos, nascidos do mesmo Pai. Com culturas e tradições diferentes, mas todos irmãos. E no respeito pelas nossas diferentes culturas e tradições, pelas nossas diversas cidadanias, devemos construir esta fraternidade. Sem a negociar.
É o momento da escuta. É o momento da aceitação sincera. É o momento da certeza de que um mundo sem irmãos é um mundo de inimigos. Gostaria de o salientar. Não podemos dizer: ou irmãos ou não irmãos. Digamos bem: ou irmãos ou inimigos. Pois o desprezo é uma forma muito ardilosa de inimizade. Não é preciso uma guerra para fazer inimigos. É suficiente o desprezo. Basta com esta técnica — transformou-se numa técnica — basta com esta atitude de olhar para o outro lado, sem se importar com o outro, como se ele não existisse.
Caro irmão Grão-Imã, obrigado pela sua ajuda. Obrigado pelo seu testemunho. Obrigado por este caminho que percorremos juntos!