· Cidade do Vaticano ·

As Servas de Maria reparadoras há cem anos na Amazónia

Evangelizando
e deixando-se evangelizar

Celebração da Renovação da Congregação como SMR ocorrida em 16 de julho de 2019
26 janeiro 2021

A afirmação do Papa Francisco «a vida consagrada, capaz de diálogo, síntese, encarnação e profecia, ocupa um lugar especial nesta configuração plural e harmoniosa da Igreja amazónica» (Querida Amazonia, 95), ajuda-nos a reler a nossa presença missionária, após cem anos na Amazónia (Brasil), na América Latina e nos quatro continentes onde hoje estamos presentes. O caminho da inculturação-encarnação, feito pelas primeiras irmãs missionárias e pelas gerações que se seguiram, continua a ser o nosso grande desafio a viver a missão neste tempo, cada uma consciente de que «Eu sou uma missão nesta terra» (Evangelii gaudium, 273).

O anúncio do Evangelho é o coração da nossa vida e da nossa obra, religiosas e mulheres corajosas, ousadas e abertas ao inesperado, com o coração cheio de alegria e disponibilidade, mas também de trepidação e receio, com espírito de sacrifício e no dom total de si, sustentadas pelo forte desejo de anunciar Jesus Cristo, «para que seja amado e conhecido», como gostava de dizer a nossa fundadora, a venerável madre Maria Elisa Andreoli.

Nós, Servas de Maria reparadoras, aceitamos o convite de D. Prospero Bernardi, da Ordem dos Servos de Maria, bispo da prelazia do Acre e Purus, a “sair” e ir para a Amazónia, para Sena Madureira, Estado do Acre, localizado numa zona fronteiriça com o Peru e a Bolívia. A Madre Elisa, mulher atenta e aberta ao apelo da Igreja universal, consultou as suas filhas para a primeira abertura da missão ad gentes na Amazónia, vinte anos após a fundação da congregação, a 12 de julho de 1900. Foi com grande alegria que recebeu numerosas adesões das irmãs, prontas e entusiasmadas para ir em missão. Uma confirmação necessária para responder ao convite recebido.

A 14 de novembro de 1921 cinco irmãs chegaram a Sena Madureira: M. Costantina, M. Mercedes, M. Margherita, M. Rosaria, M. Ester, e a postulante Augusta Franceschi, depois de cerca de seis meses de viagem de navio; subindo o rio Amazonas até Manaus, permaneceram ali durante três meses para aprender a língua portuguesa.

Assim escreveu o bispo Bernardi à madre Elisa a 15 de novembro de 1921: «As vossas filhas espirituais, que chegaram ontem, já deram boas provas de si na residência temporária em Manaus e estou certo de que aqui darão provas ainda maiores, uma vez que o campo de trabalho é mais vasto. [...] Ontem, assim que chegaram, foram ouvir a santa Missa; em seguida, foram acompanhadas à sua modesta casinha».

As irmãs missionárias inserem-se na realidade para a conhecer; na escuta diária do povo, procuram compreender o que ele precisa e responder aos seus apelos. Ao caminhar com o povo, «ir-se-á desenvolvendo cada vez mais um processo necessário de inculturação, que nada despreza do bem que já existe nas culturas amazónicas, mas recebe-o e leva-o à plenitude à luz do Evangelho» (Querida Amazonia, 66). Assim se estabelece uma dialética entre dar e receber, entre evangelizar e deixar-se evangelizar pelo povo, nas comunidades eclesiais de base, através da qual, ao longo das décadas, o compromisso missionário contribuiu para melhorar as condições de vida das populações locais através da abertura de colégios, escolas, hospitais e outras obras sociais inspiradas nos valores da fraternidade. Estar com o povo, prolongando a presença de Maria de Nazaré, serva do Senhor, irmã e mãe da humanidade, também ajuda a construir confiança e amizade, como base para o crescimento do povo e a sua promoção integral. A atenção é dirigida também ao cuidado do meio ambiente, a nossa casa comum, com a indispensável ajuda e colaboração dos leigos.

Celebrar o primeiro centenário da missão ad gentes é uma grande oportunidade para a nossa congregação: enquanto recordamos com gratidão o que aconteceu, queremos deixar-nos guiar pelo Espírito que nos move para escolhas corajosas no anúncio jubiloso do Reino, atentas à dimensão social da evangelização, solidárias com aqueles que estão empenhados na justiça e na paz, promotoras da fraternidade universal e tecelãs de esperança, na «reconciliação reparadora» (Fratelli tutti, 78).

M. Augusta de Oliveira
Servas de Maria reparadoras