· Cidade do Vaticano ·

Na Guiné-Bissau o “pacto educativo” entre as missionárias da Imaculada e os habitantes de algumas aldeias

O futuro de um sorriso

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01 setembro 2020

Felizmente, e não sem sacrifícios, todos os dias no mundo há homens e mulheres que decidem aliar-se, unir as forças e as suas melhores qualidades para assegurar educação e escolaridade às jovens gerações. Acontece também na Guiné-Bissau, um pequeno Estado africano de 1.800.000 habitantes, 15% dos quais são de fé cristã, 46% de fé muçulmana, enquanto os restantes são seguidores da religião tradicional. Aqui, onde a taxa de analfabetismo ainda é elevada, centenas de meninos e meninas podem estudar e construir um bom futuro, graças à feliz aliança nascida entre doze religiosas missionárias da Imaculada, os aldeões, o Estado e a diocese de Bissau; trata-se de uma aliança que representa uma declinação significativa do “amplo pacto educativo”, cuja necessidade e urgência foram sublinhadas pelo Papa Francisco, anunciando o encontro mundial intitulado “Reconstruir o pacto educativo global” (adiado para outubro próximo por causa da pandemia).

Tudo começou no início dos anos noventa, quando as missionárias da Imaculada, visitando os povoados nos arredores das vilas de Mansôa e Bissorã, começaram a conscientizar a população sobre a importância de mandar crianças à escola e decidiram oferecer um saco de arroz aos professores das (poucas) escolas estatais que não recebem regularmente o salário do Estado. Os habitantes das aldeias, compreendendo gradualmente a importância de garantir uma boa educação aos seus filhos, começam a pedir a abertura de novas escolas. Assim acontece: ao longo dos anos, são criadas 16 “escolas autogeridas”, construídas pelos aldeões, que conseguem encontrar pelo menos uma parte do material necessário, assegurando que também às meninas seja oferecida a oportunidade de estudar: por sua vez, as irmãs missionárias da Imaculada fornecem o material que falta para a construção (cimento e chapas de zinco para a cobertura do telhado), ocupam-se da seleção e da formação dos professores e gerem-nas estipulando, juntamente com a diocese de Bissau, um acordo com o Estado, que paga o salário aos professores. Atualmente, estas 16 escolas — todas abrangem o ciclo de ensino básico e secundário — podem contar com oitenta professores e são frequentadas por mais de cinco mil alunos (de diferentes religiões), metade dos quais são meninas.

«A obra de conscientização levada a cabo nas aldeias, que ainda continua, demonstrou que funciona; as minhas irmãs e eu estamos felizes por ver que muitos pais mandam os filhos à escola e que há um grande número de meninas. Algumas delas escolheram tornar-se professoras e hoje trabalham nas escolas dos povoados onde estudaram», afirma a irmã Alessandra Bonfanti, missionária da Imaculada, 65 anos, que se ocupa de atividades de formação, na comissão diocesana de catequese e na rádio Sol Mansi. «Lembro-me que quando cheguei à Guiné-Bissau, há vinte e nove anos, o número de meninas que iam à escola era muito reduzido: só eram preparadas para ser esposas e mães, e julgava-se que para elas a educação não era necessária. Hoje a situação mudou e um número sempre crescente de mulheres estuda e participa na vida pública: mas ainda há muito trabalho a fazer para garantir o pleno respeito da dignidade das mulheres». Na Guiné-Bissau existe a prática de casamentos forçados e ainda se realiza a mutilação genital feminina, apesar de ser proibida por uma lei de 2011.

Nas escolas, as missionárias da Imaculada ocupam-se da formação dos professores com cursos periódicos (recentemente um foi dedicado à violência doméstica) e também dão aulas e lições aos alunos sobre certos temas (por exemplo, o valor e a dignidade da pessoa, a paz e a justiça, o respeito pela natureza, os direitos humanos). O objetivo, salienta a irmã Alessandra, é garantir a formação integral da pessoa, ou seja, a formação de meninos e meninas que tenham não só uma boa educação, mas também valores sólidos, que sejam capazes de assumir responsabilidades, colocar os seus melhores talentos ao serviço dos outros e construir comunidades fraternas.

Refletindo sobre o discurso com o qual o Papa Francisco anunciou o encontro mundial dedicado à “Reconstrução do pacto educativo global”, a irmã Alessandra observa: «Senti-me em casa, lendo as palavras do Santo Padre, são palavras preciosas que orientam, relançam, encorajam a obra educativa. A aliança que ele invoca é indispensável, as nossas 16 escolas testemunham que para educar uma criança é realmente necessário um povoado, a comunhão de intenções de muitos adultos que se tornam cúmplices laboriosos em vista do bem dos mais pequeninos. A educação, diz o Papa, não é uma empresa individual; na África, afligida por muitos problemas mas ainda não doente de individualismo, como acontece em muitas sociedades ocidentais, esta verdade é mais fácil de compreender e de propor. E é capaz de gerar o inesquecível sorriso de gratidão dos nossos alunos!».

Cristina Uguccioni