Dia de oração, jejum e solidariedade com Beirute
O desejo de «um futuro cheio de esperança» para o Líbano e a ação de graças ao Senhor pelo seu amor «que foi expresso através da solidariedade de muitos», com a recomendação da Terra dos Cedros — para que possa realizar a sua «vocação de paz e fraternidade» — ecoaram na oração sincera do Papa Francisco lida pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, no meio do povo de Beirute, na manhã de sexta-feira, 4 de setembro, por ocasião do Dia universal de oração e jejum pelo Líbano. Foi o próprio Pontífice que o anunciou na audiência geral na quarta-feira 2 de setembro, segurando entre as mãos uma bandeira libanesa levada por um sacerdote maronita. Uma iniciativa apoiada também no Dia 4 com um tweet na conta @Pontifex lançado pela Rede mundial de oração do Papa e pelos meios de comunicação do Vaticano.
O cardeal falou da proximidade da «Igreja católica de todo o mundo» ao Líbano e ao seu povo diante dos líderes religiosos reunidos na catedral maronita de São Jorge, na capital, onde foi comemorada a trágica explosão no porto da cidade há um mês. O Papa, recordou o cardeal Parolin, «pediu-me que viesse aqui ao vosso encontro depois de ter lançado o seu apelo por um “Dia de oração, jejum e solidariedade com Beirute” e com o Líbano». E a resposta foi «imediata e veio de muitos países, de todos os continentes. Não estais sós», assegurou o secretário de Estado, que — depois de invocar de Deus o dom da «sua paz a todas as vítimas da terrível e trágica explosão que rapidamente dilacerou o coração da cidade» — rezou para que o Senhor «conceda a força para cuidarmos de cada pessoa atingida e para levarmos a cabo a tarefa de reconstrução de Beirute». Depois, salientou que ninguém pode «viver numa situação de receio de que as suas vidas e as dos seus entes queridos possam ser ameaçadas a qualquer momento». Por esta razão, acrescentou, «estamos ao vosso lado em silêncio e solidariedade para expressar o nosso amor. Ao vosso lado, encontramos a coragem de clamar juntos: “Chega”». No seu discurso, o cardeal salientou também como «o nosso sofrimento» nos pode «ajudar a purificar as nossas intenções e a reforçar a nossa determinação de viver juntos em paz e dignidade, a procurar uma melhor governação que promova a responsabilidade, a transparência e a responsabilização».
Formulou um caloroso convite a derrotar juntos a violência e «todas as formas de autoritarismo, promovendo uma cidadania inclusiva baseada no respeito pelos direitos e deveres fundamentais». Recordando a mensagem do Papa Francisco para o lii Dia mundial da Paz (2019), o cardeal exortou todos os líderes políticos libaneses, «os dos partidos tradicionais mas também os dos novos movimentos, a promover de uma forma sincera e concreta os talentos dos jovens e as suas aspirações à paz e a um futuro melhor». Ninguém, reiterou, «deve manipular os sonhos das gerações mais jovens, mas sim facilitar a sua participação ativa na construção da sociedade». Depois o secretário de Estado sublinhou «a importância única do Líbano», que faz parte da Terra Santa «visitada por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelos seus apóstolos, bem como pela sua Mãe, querida por todo o povo libanês, a Virgem Santa Maria». Os líderes religiosos, acrescentou, têm «a missão fundamental de dar esperança a uma população atingida, de honrar e servir os nossos irmãos e irmãs em humanidade, começando pelos mais vulneráveis».
A este respeito, o cardeal Parolin referiu-se aos «bons exemplos de solidariedade vividos em Beirute», que «reforçam a nossa esperança e inspiram as nossas ações futuras». Dirigindo-se aos representantes de várias organizações confessionais e da sociedade civil presentes no encontro, o cardeal disse estar consciente de que eles «têm a maior parte da responsabilidade» e que estão a fazer «grandes esforços para não abandonar ninguém nestas circunstâncias trágicas», formulando os votos de que possam «continuar a oferecer um exemplo de solidariedade sincera, fiel à tradição libanesa de resiliência, criatividade e apoio recíproco». Em seguida, o purpurado renovou o apelo do Papa Francisco à comunidade internacional: «Não deixeis o Líbano sozinho!». O país, disse, «precisa do mundo, mas o mundo também precisa da experiência única e constante de pluralismo, do viver juntos em solidariedade e liberdade que é o Líbano».
Na tarde anterior, à sua chegada a Beirute, o cardeal celebrou a missa na praça do santuário mariano de Harissa. Diante dos pastores, fiéis e autoridades locais, reunidos à volta da mesa eucarística, em memória das vítimas da tragédia, dos seus familiares e do momento dramático para toda a nação, expressou «a proximidade e solidariedade do Santo Padre e, através dele, de toda a Igreja». Depois, comentou que o Líbano «sofreu demasiado» e recordou que «o ano que está prestes a terminar foi palco de muitas tragédias que atingiram o povo libanês». Sem esquecer a grave crise económica, «social e política que continua a abalar o país, a pandemia de coronavírus que agravou a situação e, recentemente, há um mês, a trágica explosão no porto de Beirute, que assolou a capital do Líbano e causou um sofrimento terrível». É verdade, acrescentou, que os libaneses «estão a viver momentos de abatimento. Estão prostrados, exaustos e frustrados». Mas «não estão sozinhos. Acompanhamo-los a todos espiritual, moral e materialmente». De facto, no último ano, e especialmente no último mês, o Papa «recordou o Líbano em várias ocasiões e expressou a sua solidariedade através de gestos concretos». Por fim, o cardeal exortou «a comunidade internacional a ajudar o Líbano, a trabalhar para resolver os seus problemas e a procurar o bem deste grande povo e deste país», definido por João Paulo ii como «mensagem para o Oriente e Ocidente.