Um livro muito recente de Luciano Moia — editor-chefe da revista mensal do diário Avvenire, “Noi famiglia e vita” — com prefácio-entrevista do cardeal Matteo Maria Zuppi (Chiesa e omosessualità. Un’inchiesta alla luce del magistero di Papa Francesco, Cinisello Balsamo, San Paolo, 2020), leva-nos a prestar atenção à questão urgente e sem precedentes das relações do mundo eclesial com pessoas de tendência homossexual. Todo o volume, que reúne afirmações do Papa Francisco e doze entrevistas, além do testemunho de um crente com tendência homossexual, é atravessado por um “fio vermelho” constituído pelas palavras do Pontífice, contidas no capítulo 8 da Amoris laetitia, com referência a situações conjugais irregulares, na convicção de que também são aplicáveis a pessoas com tendência homossexual.
O critério fundamental, a partir do qual se apresenta toda uma série de problemáticas, é o acolhimento, que se articula como acompanhamento, discernimento e integração, na tensão entre a fidelidade inalienável à doutrina e a abertura cuidadosa à existência concreta das pessoas. A reflexão desenvolve-se a três níveis: antropológico, teológico e pastoral, e em cada um deles recorre, indicando-a como indispensável, à contribuição da investigação interdisciplinar, com aquisições das ciências biológicas e humanas. O objetivo do livro não é, nem pode ser, oferecer soluções fáceis para problemas extremamente complexos, mas encorajar um olhar que não seja simplisticamente redutor e que se concentre sempre no ideal evangélico e na atenção à pessoa. Por este motivo, o primeiro passo é o da investigação antropológica, que representa a premissa indispensável de qualquer afirmação sobre todos os seres humanos, incluindo, evidentemente, aqueles com tendência homossexual.
O conceito de natureza humana mantém toda a sua validade, mas deve ser continuamente relido para descobrir, cada vez mais profundamente, a dimensão relacional original que nos impede de considerar o indivíduo como uma mónada isolada. A partir disto articula-se a perspetiva teológica, desenvolvida à luz da sagrada Escritura, com o desejo de compreender cada vez melhor a mensagem cristã sobre todos os seres humanos, incluindo aqueles com tendência homossexual que são sempre alcançados pela misericórdia e pelo amor de Deus.
O terceiro nível, o pastoral, é sem dúvida o mais problemático, porque levanta questões às quais não é possível dar respostas superficiais fáceis. Como ativar concretamente as diferentes realidades eclesiais, a integração de pessoas com tendência homossexual, tendo em consideração a diversidade dos contextos e, ainda antes, a singularidade das pessoas e das suas histórias? Hoje em dia, no mundo eclesial existem várias situações em que já se vive a integração e podem servir de exemplo para novas formas de acolhimento capazes de manter unidas as necessidades espirituais das pessoas com tendência homossexual e a sensibilidade das comunidades. Neste sentido, não se trata de querer relativizar as normas, mas de saber como elas podem ser aplicadas com misericórdia, considerando que ninguém está excluído da graça de Deus e que o caminho para o bem possível é lento e gradual.
Concluindo, a atenção à questão dos cristãos com tendência homossexual oferece uma oportunidade preciosa para considerar a diferença entre homem e mulher, querida por Deus desde o início como um bem e um valor a ser protegido. Infelizmente, muitas vezes esta distinção permanece fechada em padrões e estereótipos que a mortificam, interpretando-a de acordo com a lógica de uma cultura materialista e hedonista, longe do desígnio original de Deus que a criou em vista de uma relação esponsal caraterizada pela fidelidade e indissolubilidade. Sem dúvida, a diferença sexual é a primeira das diferenças que existem entre as pessoas, mas não nos pode fazer esquecer as diversidades individuais que existem até entre duas mulheres ou dois homens.
A exigência de colocar em primeiro lugar a pessoa, com a sua singularidade única e irrepetível, criada por Deus por amor e, por sua vez, chamada a dar amor, não deve fazer-nos esquecer que, no desígnio de Deus Criador, a vida é transmitida na beleza e na fecundidade do relacionamento entre a mulher e o homem.
Giorgia Salatiello