Na aliança entre as gerações há a recordação da avó Rosa e a relação com Bento XVI
«Não os deixeis sozinhos!». Atencioso e preocupado, o Papa faz suas as dificuldades dos mais frágeis neste tempo marcado pela pandemia, e pensa nos numerosos idosos que, nas redes do distanciamento social, correm o risco de precipitar na solidão e no abandono. Para os ajudar o Papa chamou os jovens, que considera colaboradores privilegiados nesta obra, convidando-os a «fazer um gesto de ternura a favor dos idosos», disse no Angelus de domingo, 26 de julho, «especialmente os mais solitários, nas casas e nas residências, aqueles que há muitos meses não veem os seus entes queridos. Caros jovens, cada um destes idosos é o vosso avô!».
O apelo foi imediatamente retomado pelo Dicastério para os leigos, a família e a vida, que no seu site (www.laityfamilylife.va) lançou a campanha “Cada idoso é teu avô”. Uma iniciativa que, para envolver em maior medida as novas gerações, aposta também na difusão, em todos os canais sociais, do hashtag #sendyourhug «manda o teu abraço». No respeito pelas normas de saúde em vigor nos vários países, trata-se do convite muito concreto feito pelo bispo de Roma: «Recorrei à fantasia do amor, fazei-lhes telefonemas, chamadas em vídeo, enviai mensagens, ouvi-os e, se possível em conformidade com as normas médicas, ide também visitá-los. Mandai-lhes um abraço!». Depois, os posts mais significativos serão relançados pelo portal. De resto, como se lê num comunicado do Dicastério, nestes meses muitas Conferências episcopais, associações e fiéis individualmente, com «a fantasia do amor», encontraram o modo de transmitir aos idosos sozinhos a proximidade da comunidade eclesial. Agora, acrescenta-se, «onde for possível, ou quando a emergência sanitária o permitir, convidamos os jovens a tornar ainda mais concreto o abraço, indo visitar pessoalmente os idosos».
O apelo de Francisco foi forte e ao mesmo tempo confiante da parte de quantos sentem e vivem um vínculo profundo com as jovens gerações. Afinal de contas, ele mesmo se sente um avô a quem os netinhos podem recorrer a qualquer momento: como quando, durante a viagem às Filipinas em janeiro de 2015, a multidão o chamou Lolo Kiko (“avô Francisco”) e ele disse várias vezes que se sente feliz com esta familiaridade.
Sim, familiaridade. Com efeito, na base desta solicitude está uma realidade que, desde o início do pontificado, Bergoglio dispôs como central no seu magistério, a da família. Nele, em particular, ressaltou constantemente a importância de uma ponte entre as gerações, de uma aliança de vida pela qual os jovens levam em frente os sonhos dos idosos, e os netos constroem o futuro sobre as raízes sólidas dos valores herdados dos avós. Perante uma sociedade que considera os idosos um fardo, um elemento improdutivo, um descarte, o Papa propõe incansavelmente a “riqueza dos anos” como um bem precioso para a comunidade inteira.
Os idosos são a sabedoria da família, certamente não um peso inútil; e mediante a sua experiência e a sua memória, podem oferecer uma contribuição para a vida da sociedade. Conceitos reiterados em várias ocasiões, nas homilias, nas catequeses, durante as viagens e as visitas pastorais, ou no recente Sínodo dedicado aos jovens. Mas sem nunca apostar em raciocínios teóricos. Quando Francisco fala desta relação, toca sempre a carne da vida, recorda anedotas, visualiza com palavras o que emerge da vida quotidiana. E usa imagens concretas, como aquela eloquente da árvore que, quando se desprende das raízes, não cresce, não dá flores nem frutos. «O que a árvore tem de florescido vem daquilo que tem de enterrado», disse no domingo passado, citando os versos do poeta argentino Francisco Luis Bernárdez (1900-1978).
Quantas vezes o Pontífice se referiu, com discrição e ternura, ao relacionamento que o unia à querida avó Rosa? À maneira como ela distribuía pérolas de sabedoria e de bom senso ao netinho; ao modo como ela o ensinou a rezar? Numa ocasião, explicou: «As palavras dos avós têm algo especial para os jovens. Também a fé se transmite assim, através do testemunho dos idosos, que fizeram dela o fermento da própria vida. Sei isto por experiência pessoal. Ainda hoje trago sempre comigo, no meu breviário, as palavras que a minha avó Rosa me deu por escrito no dia da minha ordenação sacerdotal; leio-as frequentemente e fazem-me bem». E quantas vezes, transferindo essas imagens familiares para aquela que é a família da Igreja, Francisco falou de Bento xvi, o Papa emérito, como de um avô confiável e sábio? «É como ter — disse numa entrevista — um avô sábio em casa!».
«Cada idoso é teu avô»: o apelo do Papa, na contingência de um período tão difícil para toda a sociedade, faz renascer este tesouro e relança aquela ponte entre as gerações, aquele nexo precioso entre raízes e futuro, que dá esperança à humanidade. Porque — como disse o Pontífice em fevereiro passado, aos participantes no congresso «A riqueza dos anos», organizado precisamente pelo Dicastério para os leigos, a família e a vida — é preciso fitar os idosos «com um novo olhar», pois também eles, como os jovens e com os jovens, «são o presente e o futuro da Igreja».
Maurizio Fontana