A ambulância que o Papa Francisco ofereceu à Esmolaria Apostólica está destinada “exclusivamente” ao socorro das pessoas mais pobres de Roma, para ajudar os necessitados que permanecem quase invisíveis aos olhos das instituições. O Papa abençoou a ambulância — na presença do Cardeal esmoler Konrad Krajewski — nas proximidades do Arco dos Sinos, na manhã de domingo, 31 de maio, antes de celebrar a Missa de Pentecostes na Basílica de São Pedro.
O veículo de socorro, com a matrícula scv, está ao serviço, em particular, dos desabrigados que vivem as dificuldades da rua e procuram refúgio perto do Vaticano ou em abrigos improvisados em Roma. Acompanhará as outras iniciativas de assistência médica da Esmolaria que estão ativas há alguns anos: como a clínica ambulatorial móvel, utilizada principalmente nos subúrbios de Roma; ou a Clínica Mãe da Misericórdia que, sob a colunata Bernini, oferece uma primeira assistência médica a quem não a tem, e que continuou a desempenhar o seu trabalho mesmo durante o longo período de encerramento por causa da emergência da Covid-19.
A ambulância doada pelo Santo Padre é uma das utilizadas dentro do Estado da Cidade do Vaticano e foi disponibilizada pelo Governatorato, em memória da trágica história de Modesta Valenti, a desabrigada — a quem a cidade de Roma também dedicou uma rua — que se tornou um símbolo de todos aqueles “mártires da indiferença” que morrem de privações no meio da rua nas grandes cidades, esquecidos por todos.
Era o início de 1983 e Modesta tinha setenta anos. Vinda de Trieste com uma história marcada também pela dolorosa experiência do internamento num hospital psiquiátrico, tinha sido notada naquele frio Inverno romano por alguns jovens de Santo Egídio enquanto mendigava em Santa Maria Maior. Ela disse aos voluntários que a ajudaram que gostava de caminhar até São Pedro porque o Papa estava lá; e uma vez ela também teve a alegria de visitar a Basílica do Vaticano com um amigo da Comunidade de Trastevere. Infelizmente, a 31 de janeiro, depois de uma noite passada ao frio perto da Estação Termini, a idosa sentiu-se mal: alguns transeuntes chamaram uma ambulância, mas quando chegaram não a quiseram socorrer porque ela tinha piolhos. Durante quatro longas horas, vários hospitais não assumiram a responsabilidade de a socorrer. Modesta permaneceu no chão, continuando a sofrer e, quando finalmente se decidiram a socorrê-la, já estava morta.