O calor é forte no arrozal. Uma brisa leve move ligeiramente a água. As camponesas estão curvadas a remover as ervas daninhas que poderiam comprometer a colheita. Um pequeno dispositivo transístor emite um ruído que mal se ouve. Mas as jovens não poderiam dispensá-lo. Aquele pequeno rádio, comprado num mercado de produtos usados da cidade, é para elas um companheiro indispensável, um amigo fiel que as acompanha nos seus esforços diários. Ajuda-as a manter-se informadas graças aos noticiários radiofónicos, a distrair-se com alguma música ou até com um sit-com, a refletir e, por que não, também a rezar. Na Guiné-Bissau não é difícil deparar-se com um cenário semelhante a este. Tanto aqui, como noutras partes da África, onde a televisão e os computadores são bens de luxo que muitos não podem possuir, a rádio constitui um ponto fixo na vida. Especialmente para as pessoas mais humildes. E na Guiné-Bissau, quando falamos de rádio, falamos da Rádio Sol Mansi. É a principal estação de rádio particular do país e compete com a rádio pública nacional pela preferência dos ouvintes.
«Hoje — explica Alessandra Bonfanti, missionária da Imaculada, do Pime, vice-diretora da rádio — somos uma realidade nacional. As nossas frequências podem ser alcançadas em todo o país, graças a três antenas (uma no leste, uma no sul e a terceira no norte) e aos nossos três escritórios (Bissau, a capital, Mansôa e Bafatá). Um sucesso alcançado com muito trabalho e isto parece incrível quando se pensa no modo como a aventura começou». A Rádio Sol Mansi nasce num dos momentos mais delicados da história da Guiné-Bissau. Estamos em 2001 e o país começa a sair de uma guerra civil sangrenta. Dois anos de inferno, que mergulharam uma das nações mais pobres e atrasadas do mundo nas profundezas da violência e do desespero. Durante os longos meses de conflito, os meios de comunicação social locais nada mais fizeram do que transmitir mensagens de ódio, fomentando a violência. Em Mansôa, o padre Davide Sciocco, missionário do Pime, começou a pôr em questão o papel desempenhado pelos meios de comunicação social. Se os mass media, interroga-se o sacerdote, tiveram um papel tão importante na promoção do mal, por que razão não podem ser utilizados positivamente, para promover o bem? Por que não criar uma emissora, mesmo que seja pequena, que possa transmitir mensagens de paz?
Entre inúmeros obstáculos e dificuldades, o padre Davide dá vida a um pequeno estúdio precisamente em Mansôa. Transmite apenas algumas horas por dia. Os seus programas apostam na informação e, acima de tudo, na formação. Obviamente também na música, muita música e nalguns programas de entretenimento. «Naquela altura, as frequências eram fracas», recorda a irmã Alessandra, «e o sinal chegava só ao território da missão, ou pouco mais». Mas as pessoas apaixonaram-se imediatamente. Todos a ouviam e apreciavam a sua carga positiva, a mensagem a favor da paz, da convivência e do diálogo. Desde os primeiros anos, o padre Davide e os seus colaboradores procuraram construir pontes, inclusive com as demais comunidades religiosas. E encontraram imediatamente o favor dos muçulmanos, mas também das Igrejas evangélicas». A Rádio Sol Mansi, lentamente e no meio de mil esforços, cresce. E progressivamente esta pequena realidade missionária continua a estruturar-se. O sinal torna-se cada vez mais forte e chega a todas as províncias da Nação. São também estabelecidos relacionamentos com as estações de rádio locais, que relançam os programas mais populares.
«Agora — sublinha a vice-diretora — é uma estação de rádio interdiocesana. É propriedade das dioceses de Bissau e Bafatá. O diretor é Casimiro Jorge Cajucam, um leigo, e agora os funcionários são cerca de trinta. Além disso, podemos contar também com uma rede de aproximadamente quarenta voluntários, que nos fornecem notícias constantemente atualizadas. As pessoas consideram-nos uma fonte muito influente. «Se a Rádio Sol Mansi o diz, é verdade», ouve-se dizer. E para nós é um motivo de alegria e, permiti-me que vos diga, também de orgulho». Tal como no passado, o calendário da programação mistura sensatamente informação, entretenimento, formação (da agricultura à educação alimentar, da luta contra a Sida à promoção das mulheres) e reflexão. «Nestes tempos de coronavírus», observa Bonfanti, «desempenhamos um grande trabalho para sensibilizar as pessoas sobre as questões de higiene, as regras para evitar o contágio, o respeito pelas distâncias». Transmitimos frequentemente anúncios publicitários e programas informativos. Criamos também uma espécie de espetáculo teatral sobre a Covid-19, a fim de alcançar as pessoas mais humildes e menos instruídas. Além disso, do ponto de vista educativo, trabalhamos muito sobre o tema da emigração. Neste caso, dirigimo-nos aos mais jovens, explicando-lhes os riscos que correm na longa e perigosa viagem rumo à Europa».
No entanto, a Rádio Sol Mansi não renuncia à linha de diálogo que sempre a caraterizou. Ainda hoje emite programas inter-religiosos e dá espaço a programas dedicados às Igrejas reformadas e ao mundo muçulmano. «O do diálogo — conclui a religiosa — representa um ponto fixo. A emissora nasceu para incentivar o encontro e estamos felizes que os ótimos relacionamentos com os outros credos continuem ao longo do tempo. Entre as rádios que relançam os nossos programas encontra-se também a estação de rádio corânica de Mansôa. Os muçulmanos apreciam muito o programa “Dez minutos com Deus”, conduzido pelo padre Sciocco. As suas reflexões inspiram-se em histórias comuns e oferecem sempre uma moral, compartilhada por todos. Deste modo, a rádio torna-se um instrumento de crescimento humano para o população da Guiné-Bissau». Um instrumento do qual as pessoas não se separam, nem sequer quando vão trabalhar no campo.
Enrico Casale