· Cidade do Vaticano ·

Estar mais próximos dos idosos e das crianças

Outro lado da moeda: a vida

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12 maio 2020

«No dia dos bens não te esqueças dos males e no dia dos males não te esqueças dos bens» (Ecle 11, 27). Esta passagem bíblica nos convida a reconhecer o valor da vida diante das provações e das adversidades. Por causa da ameaça invisível de uma enfermidade, vivemos momentos incertos e difíceis, mas a fé nos dá a certeza de que Deus não permitiria o mal se do próprio mal não tirasse o bem, por caminhos que só conheceremos plenamente na vida eterna.  Contudo, «a eternidade já alegra o tempo» (dizia um antigo teólogo) e assim a fé nos faz degustar como por antecipação a felicidade plena e eterna para a qual fomos criados. Portanto, nos momentos difíceis devemos lembrar de tudo o que há de bom e de verdadeiro neste mundo criado por Deus em estado de caminhada.

Agora que estamos mais caseiros, surgem novas e interessantes oportunidades para ampliarmos o diálogo com os mais frágeis. Podemos agora estar mais próximos dos idosos que oferecem sabedoria e serenidade, das crianças que oferecem alegria e inocência. Podemos também contemplar por mais tempo uma flor que desabrocha, um pássaro que canta, uma bela joaninha e tantas outras maravilhas que a mãe natureza nos oferece. A vida mede-se pelo amor: amor a Deus, amor ao próximo. Neste momento, o comodismo pode aparecer como uma tentação que nos arrasta para a inércia. Mas isolamento social não é sinônimo de imobilidade e, portanto, precisamos buscar criatividade para agirmos em favor dos mais carentes através de apoio espiritual, psicológico e material. Afinal, quem não vive para servir, não serve para viver.

Obedecer às diretrizes médicas e seguir as conclusões científicas é sinal de civilidade e de responsabilidade diante do bem comum. Mas o medo não é salutar. Percebo que muitas pessoas permanecem escravas dos dramas, das notícias catastróficas, às vezes sensacionalistas, das intrigas políticas em torno do problema do vírus e de outros desequilíbrios. Creio que podemos tomar conhecimento das notícias boas ou más com a devida serenidade e com o cuidado para não cairmos na hipocondria que é um medo mórbido de doença.

Vejamos também as notícias positivas, tantas vezes escondidas. Exemplos: neste momento em que escrevo, a importante universidade americana Johns Hopkins afirma que no mundo 692 mil pessoas se recuperaram do coronavírus. Este número é cerca de quatro vezes maior que o número atual de mortes. Na atingida Itália, todos os dias nascem mais de mil crianças, segundo estimativa feita há dois anos. São informações interessantes porque revelam que apesar das ameaças concretas deste vírus, a vida continua brilhando como inestimável dom de Deus.

O que dizer então para tantas pessoas que perderam amigos e familiares por causa desta pandemia? A resposta é que não somos proprietários, mas apenas administradores da vida que Deus nos oferece dentro de um espaço de tempo que Ele mesmo determina contando com nossa colaboração. “Ninguém pode escolher arbitrariamente viver ou morrer; efetivamente, senhor absoluto de tal decisão é apenas o Criador, aquele em quem vivemos, nos movemos e existimos (At 17, 28)» (Papa São João Paulo ii).

«Eu não morro, entro na vida»! Estas são palavras de Santa Teresinha de Lisieux que permanecem oportunas para lembrarmos da perpetuidade de pessoas boas que edificaram nossas vidas e cujo destino eterno é assegurado por Jesus ao dizer que os justos alcançarão a vida eterna (Mt 25, 46; Jo 11, 25).

Por fim, lembremo-nos que é fonte de felicidade e paz ter confiança em Deus, em todas as circunstâncias, mesmo na adversidade. Uma oração de Santa Teresa de Ávila exprime admiravelmente tal atitude:

«Nada te perturbe / Nada te espante / Tudo passa / Deus não muda / A paciência tudo alcança / Quem a Deus tem nada lhe falta / Só Deus basta».

Luís Eugênio Sanábio e Souza