Introdução
Hoje comemora-se Santa Luísa de Marillac [a memória litúrgica é celebrada no dia 15 de março mas, tendo aquele dia coincidido com o tempo de Quaresma, foi transferida para hoje]. Rezemos pelas irmãs vicentinas que dirigem este ambulatório, este “hospital”, há quase 100 anos [trata-se do Dispensário Pediátrico Santa Marta, gerido pelas religiosas da Congregação das Filhas da Caridade], e trabalham aqui, em Santa Marta, para este “hospital”. Que o Senhor abençoe as irmãs!
Homilia
No Salmo recitamos: «Cantai ao Senhor um cântico novo, porque fez maravilhas; a sua mão e o seu santo braço alcançaram-lhe a vitória. O Senhor deu a conhecer a sua salvação, manifestou a sua justiça perante os povos» (Sl 97, 1-2). Isto é verdade. O Senhor fez maravilhas. Mas quanto esforço! Quantos esforços, para as comunidades cristãs, levar adiante estas maravilhas do Senhor!
Na passagem dos Atos dos Apóstolos (cf. 13, 44-52) sentimos alegria: toda a cidade de Antioquia está reunida para ouvir a palavra do Senhor porque Paulo e os apóstolos pregavam com vigor, e o Espírito ajudava-os. «Então os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo pregava» (v. 45). Por um lado, há o Senhor, há o Espírito Santo que faz a Igreja crescer, e cresce cada vez mais, isto é verdade. Mas, por outro, há o espírito maligno que procura destruir a Igreja. Foi sempre assim, é sempre assim. Continua-se, mas depois vem o inimigo que tenta destruir. A longo prazo o balanço é sempre positivo, mas quanto esforço, quanta dor, quanto martírio!
Isto aconteceu em Antioquia, e acontece em toda a parte no Livro dos Atos dos Apóstolos. Pensemos, por exemplo, em Listra, quando chegaram e curaram [um paralítico] e todos acreditavam que eram deuses e queriam fazer sacrifícios, e todo o povo estava com eles (cf. At 14, 8-18). Depois vieram os outros e convenceram-nos de que não era assim. E como acabaram Paulo e o seu companheiro? Apedrejados (cf. At 14, 19). Sempre uma luta. Pensemos no mago Élimas, e no modo como agiu para impedir que o Evangelho chegasse ao procônsul (cf. At 13, 6-12). Pensemos nos senhores daquela jovem vidente: exploravam-na, porque ela “lia as mãos” e recebia o dinheiro que depois ia parar nos bolsos dos senhores. E quando Paulo e os apóstolos demonstraram que aquilo era mentira, que não era bom, revoltaram-se imediatamente contra eles (cf. At 16, 16-24). Pensemos nos artesãos da deusa Artemis [em Éfeso], que perderam o comércio porque não podiam vender as estatuetas, pois as pessoas já não as compravam, porque se tinham convertido. E assim, um após o outro. Por um lado, a Palavra de Deus que convoca, que faz crescer; por outro, a perseguição, a grande perseguição que acaba por os afastar, pois espancavam-nos...
E qual é o instrumento do diabo para destruir a proclamação do Evangelho? A inveja. O Livro da Sabedoria diz claramente: «Pela inveja do diabo o pecado entrou no mundo» (cf. 2, 24) - inveja, ciúme. Sempre este sentimento amargo, amargo. Estas pessoas viram como o Evangelho foi pregado e ficaram zangadas, isto roía-lhes o fígado de raiva. E esta raiva impeliu-os: é a raiva do diabo, a raiva que destrói, a raiva daquele “crucifica, crucifica!”, daquela tortura de Jesus. Ele quer destruir. Sempre, sempre!
Vendo esta luta, aplica-se também a nós o belo ditado: «A Igreja prossegue entre as consolações de Deus e as perseguições do mundo» (cf. Santo Agostinho, De Civitate Dei, XVIII, 51, 2). A uma Igreja que não enfrenta qualquer dificuldade falta algo. O diabo está demasiado calmo. E se o diabo está calmo, as coisas não correm bem. Sempre a dificuldade, a tentação, a luta... O ciúme que destrói. O Espírito Santo faz a harmonia da Igreja, e o espírito maligno destrói. Até hoje, até hoje. Sempre esta luta. Um instrumento deste ciúme, desta inveja, são os poderes temporais. Aqui diz-se que «os judeus instigaram algumas mulheres religiosas e honestas» (At 13, 50). Foram ter com aquelas mulheres e disseram: “Eles são revolucionários, expulsai-os!”. As mulheres falaram com as outras e expulsaram-nos: eram as “mulheres piedosas” da nobreza e também as notáveis da cidade (cf. v. 50). Recorreram ao poder temporal, pois o poder temporal pode ser bom: as pessoas podem ser boas, mas o poder enquanto tal é sempre perigoso. O poder do mundo contra o poder de Deus move tudo isto; e por trás, por detrás do poder está sempre o dinheiro.
O que acontece na Igreja primitiva: o trabalho do Espírito para construir a Igreja, para harmonizar a Igreja, e o trabalho do espírito maligno para a destruir, e o uso de poderes temporais para impedir a Igreja, para destruir a Igreja, é apenas uma continuação do que aconteceu na manhã da Ressurreição. Vendo aquele triunfo, os soldados foram ter com os sacerdotes, e os sacerdotes “compraram” a verdade que assim foi “silenciada” (cf. Mt 28, 11-15). Desde a primeira manhã da Ressurreição, triunfo de Cristo, está presente esta traição, este “silenciar” a palavra de Cristo, “silenciar” o triunfo da Ressurreição com o poder temporal: os chefes dos sacerdotes e o dinheiro.
Tenhamos cuidado, tenhamos cuidado com a pregação do Evangelho: nunca caiamos na confiança dos poderes temporais e do dinheiro. A confiança dos cristãos é Jesus Cristo e o Espírito Santo por Ele enviado! E o Espírito Santo é o fermento, a força que faz crescer a Igreja! Sim, a Igreja vai em frente, em paz, com resignação, jubilosa: entre as consolações de Deus e as perseguições do mundo.
Oração para fazer a Comunhão espiritual
As pessoas que não podem receber a Eucaristia, agora fazem a Comunhão espiritual
Meu Jesus, creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-vos acima de tudo e a minha alma suspira por Vós. Mas dado que agora não posso receber-vos no Santíssimo Sacramento, vinde, pelo menos espiritualmente, ao meu coração. Abraço-vos come se já estivésseis comigo: uno-me inteiramente a Vós. Ah! Não permitais que eu volte a separar-me de Vós!