O que acontecerá depois? Ou seja, após a pandemia, que nalguns países apresenta nestes dias uma curva ligeiramente decrescente. Como será o mundo no final da emergência de saúde? Muitos fazem estas perguntas, procurando prever o futuro (até nas páginas deste jornal existe um “laboratório” intitulado “pós-pandemia”), e as respostas ressoam muitas vezes inquietadoras a todos os níveis, económico, financeiro, político, social e moral. Tudo parece mais incerto, mais ameaçador e dramático. A reação, quase automática, é refugiar-se no passado, na memória do tempo precedente, quando tudo era mais familiar, óbvio (aparentemente), estável e fiável. Sente-se o aperto da saudade, que impele a querer voltar ao mundo do passado como se, fechando os olhos, se pudesse acertar os ponteiros. Divididos, indecisos entre estes dois impulsos, os homens dos países atingidos pela pandemia parecem sobretudo paralisados, balbuciantes, confusos perante a nova consciência da própria fragilidade e da precariedade do sistema socioeconómico que consideravam seguro, vencedor e convincente.
Talvez entre o impulso para a frente, para o “depois”, e o correspondente impulso para o “antes”, que colidindo entre si correm o risco de fazer entrar em crise o nosso centro de gravidade, há outro aguilhão, outra voz a ouvir. No domingo passado, por ocasião da recitação do Regina Caeli, o Papa Francisco recordou-nos o conflito que tem lugar não fora mas dentro de cada homem. Nas suas palavras sente-se a matriz inaciana de Bergoglio, que partilha plenamente a afirmação contida em Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski: «O diabo luta com Deus e o campo de batalha é o coração do homem». Para Francisco, o próprio homem é o teatro de uma batalha em que se confrontam duas vozes, a do espírito maligno que contrasta de todas as formas com a de Deus. Entre estas duas vozes está o desafio do homem chamado a fazer discernimento, a captar as diferenças substanciais entre as duas “línguas” diferentes. Em particular, o Santo Padre recordou que «a voz do inimigo nos distrai do presente e quer que nos concentremos nos receios do futuro ou nas tristezas do passado, o inimigo não quer o presente [...] Mas a voz de Deus fala no presente: “Agora podes fazer o bem, agora podes exercer a criatividade do amor, agora podes renunciar aos arrependimentos e remorsos que mantêm o teu coração prisioneiro”. Anima-nos, faz-nos ir em frente, mas fala no presente: agora». Palavras simples, claras, eloquentes, que impelem à ação, a estar “presentes no presente”, afastando o medo do amanhã e a tentação de nos fecharmos no passado. Palavras que são válidas para cada indivíduo, mas também para pessoas ligadas em comunidades, unidas em instituições. São válidas também para uma família, um bairro, uma cidade, uma nação. Pensemos na Europa, que deve superar a paralisia, as divisões do passado e dirigir os seus esforços para o desafio do presente, adquirindo a consciência de que pode realmente fazer o bem, fazê-lo agora. Aqui sobressai a virtude da esperança, a essência de todo o compromisso político. A responsabilidade é alta para o cristão, mas há uma consolação no sentido literal, pois o cristão nunca está sozinho, tem a força da Palavra que ouve na sua consciência; com efeito, no caos do tempo em que vive, o cristão consegue ouvir a voz de Deus, uma voz «que tem um horizonte, enquanto que, a voz do maligno leva-te a um muro, põe-te de lado [...] que nunca promete alegria a um preço baixo: convida-nos a ir além do nosso ego para encontrar o verdadeiro bem, a paz [...] encoraja-nos sempre, consola-nos: alimenta-nos sempre de esperança».
Andrea Monda