Giuseppe Ledda pensava que a cruz era mais pesada. Quando, na décima segunda estação, a recebeu de Maria Grazia Grassi, comissária da Polícia prisional (que tinha carregado o madeiro nas precedentes duas estações), deu um um suspiro de alívio, mas não por medo de se cansar: «No fundo, até na vida a cruz mais pesada parece sempre mais dolorosa do que realmente é», pensou consigo mesmo. E ele conhece bem o mundo do sofrimento, depois de 43 anos de serviço como enfermeiro na Cidade do Vaticano.
Mas apesar do silêncio noturno, ele sabe que não está sozinho. Na praça de São Pedro nunca se está sozinho, nem sequer quando ela se encontra vazia como esta noite. Ao lado de Giuseppe, os seus colegas da direção da saúde e higiene do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano: Maurizio Barigelli, jovem auxiliar de enfermeiro, que carregou a cruz na oitava e nona estações; e Nadia Zapponi, técnica no laboratório de análises clínicas, que teve a tarefa de levar uma das tochas ao lado da cruz. Além deles, Esmeralda Capristo (que carregou a cruz na quarta e quinta estações) e Maurizio Soave (com uma das tochas), que nestes dias trabalham na primeira linha entre os pacientes de coronavírus na policlínica Gemelli.
Os companheiros de Giuseppe, na Via-Sacra, são cinco representantes da comunidade carcerária “Due Palazzi”, de Pádua: o padre Marco Pozza, capelão desde 2011, e Tatiana Mario, jornalista e voluntária, que recolheram os textos das meditações para esta Sexta-Feira Santa. O padre Marco carregou a cruz nas três primeiras estações, e Tatiana levou uma das tochas. Além deles, Michele Montagnoli, ex-prisioneiro, que transmitiu palavras de arrependimento e renascimento. E fê-lo ao lado do diretor da prisão, Claudio Mazzeo, que carregou a cruz na sexta e sétima estações. O itinerário da Via-Sacra na praça, traçado com um “rio” de velas, começou no obelisco e deu a volta ao mesmo nas primeiras 8 estações. Era como se nesta noite os braços da colunata, abertos para acolher a todos, estivessem entrelaçados com os braços da cruz.
Entre o obelisco e o início da escadaria do chamado “leque” desdobraram-se as últimas 4 estações. Agora o ponto focal para Giuseppe e os seus companheiros passou a ser o crucifixo de São Marcelo “al Corso”, colocado precisamente no início do “leque”. E mais acima, no adro, encontrava-se o Papa à espera da cruz.
As meditações narraram a experiência da capelania da prisão “Due Palazzi” em Pádua: um grupo de pessoas meditou sobre a Paixão de Jesus, atualizando-a na própria existência. A vida colocou-os diante de situações difíceis e hoje eles apresentaram-nas na Via-Sacra, sem nada transigir: cinco presos, uma família vítima de um crime de homicídio, a filha de um condenado à prisão perpétua, uma educadora penitenciária, um juiz de vigilância, a mãe de um encarcerado, uma catequista, um frade voluntário, um polícia penitenciário e um sacerdote acusado e depois absolvido definitivamente pela justiça, após oito anos de procedimento ordinário.
Entre as várias estações, o Papa leu breves orações. Como uma mão estendida àqueles que cometeram erros e hoje procuram oportunidades de renascimento. Palavras de encorajamento para quantos se colocam ao serviço do próximo.
Sem pronunciar o discurso conclusivo, Francisco quis selar as meditações — verdadeiros testemunhos de vida — com a tradicional bênção. Mas antes apoiou a testa no madeiro da cruz, que acolhe os sofrimentos e as esperanças de todos, como se dissesse: ninguém está sozinho! Especialmente na noite de Sexta-Feira Santa!