· Cidade do Vaticano ·

Carta do Dicastério para as Igrejas orientais aos bispos de todo o mundo

Apelo para ajudar quem chora e quantos morrem devido à loucura da guerra

 Apelo para ajudar quem chora e quantos morrem devido à loucura da guerra  POR-011
14 março 2024

«Obrigado em nome de quem chora e de quantos morrem devido à loucura da guerra. Obrigado especialmente em nome daqueles que perderam os seus filhos ou que os veem horrivelmente mutilados. Ajudai-nos a ajudá-los!», escreveram o cardeal Claudio Gugerotti e o padre Michel Jalakh — da ordem maronita antoniana, nomeado arcebispo a 8 de março — respetivamente prefeito e secretário do Dicastério para as Igrejas orientais, na missiva enviada aos bispos do mundo inteiro por ocasião da coleta anual de Sexta-Feira Santa para a Terra Santa. A seguir, o texto da carta.

«E agora os nossos pés param às tuas portas, Jerusalém». Como desejaríamos que as palavras do salmo 122 fossem a descrição do que acontece nos dias de hoje! E pelo contrário, tantos peregrinos continuam afastados da cidade dos seus sonhos, enquanto os habitantes da Terra Santa continuam a sofrer e a morrer. Em todo o mundo ressoa o rumor das armas portadoras de morte. E não se vê trégua, mesmo se Deus nos assegurou que «todo o calçado que levava o guerreiro no tumulto da batalha e todo o manto revolvido em sangue, serão queimados, servindo de combustível ao fogo». Esta a profecia de Isaías (9, 4). Vimos e vemos homens em armas espalhar sangue e matar a própria vida. E no entanto o versículo sucessivo de Isaías anunciava que «um menino nos será dado [...] o Príncipe da paz». Para nós cristãos aquele menino é Jesus Cristo, Deus feito homem, Deus connosco.

O Papa Francisco não cessou nunca de manifestar a própria vizinhança a todos aqueles que foram envolvidos no conflito na Terra Santa e de gritar aos homens e às mulheres de boa vontade a própria exortação a trabalhar pela paz e a respeitar a sacralidade de cada pessoa humana. Também recentemente se exprimiu assim: «Estou próximo de todos quantos sofrem, Palestinenses e Israelitas. Abraço-vos neste momento escuro. E rezo tanto por eles. Que as armas se calem, nunca levarão à paz, e que o conflito não se alargue! Basta! Basta, irmãos, basta!» (Angelus, 12 de novembro de 2023).

A peregrinação a Jerusalém tem uma história antiga quanto o cristianismo e não só para os católicos. Isto é ainda hoje possível por causa da atividade generosa dos franciscanos da Custódia da Terra Santa e das Igrejas orientais ali presentes. Estes mantêm e animam os santuários, sinais da memória dos passos e das ações de Jesus, testemunhas materiais de um Deus que assume a matéria para nos salvar, barro animado pelo sopro do Espírito Santo. Por causa da sua dedicação, naqueles lugares se continua a rezar incessantemente pelo mundo inteiro.

Desde as suas origens a Igreja cultivou ininterruptamente e com paixão a solidariedade com a Igreja de Jerusalém. Em época tardo-medieval e moderna, diversas vezes os Sumos Pontífices intervieram para promover e regulamentar a coleta em favor dos Lugares Santos. A última vez foi reformada pelo santo Papa Paulo vi em 1974 através da Exortação Apostólica Nobis in animo. Também o Papa Francisco frisou frequentemente a importância deste gesto eclesial.

Caros irmãos e irmãs, não se trata de uma piedosa tradição para poucos. Por toda a parte na Igreja católica é obrigação dos fiéis oferecer a sua ajuda na chamada Coleta Pontifícia para a Terra Santa que se recolhe na Sexta-Feira Santa ou para algumas outras regiões, noutro dia do ano. Fazemo-lo também este ano, esperando na vossa particular generosidade.

E sabeis porquê? Porque, para além da custódia dos Lugares Santos que viram Jesus, existem ainda vivos e operantes mesmo entre mil tragédias e dificuldades frequentemente causadas pelo egoísmo dos grandes da terra, os cristãos da Terra Santa. Muitos na história morreram mártires para ver arrancadas as raízes da sua antiquíssima cristandade. As suas Igrejas são parte integrante da história e da cultura do Oriente.

Mas hoje muitos deles não conseguem resistir mais e abandonam os lugares onde os seus pais e as suas mães rezaram e testemunharam o Evangelho. Deixam tudo e fogem porque não veem esperança. E lobos vorazes dividem o que deles resta.

Os cristãos do Iraque, da Síria e do Líbano e de tantas outras terras dirigem-se a nós pedindo: «Ajudai-nos a difundir ainda no Oriente o bom perfume de Cristo» (2 Cor 2, 15).

Dirijo-me a vós para que o seu grito não fique por escutar e o Santo Padre possa sustentar as Igrejas locais a encontrar novas vias, ocasiões de habitação, de trabalho, de formação académica e profissional, para que permaneçam e não se percam no mundo desconhecido de um Ocidente, tão diverso da sua sensibilidade e do seu modo de testemunhar a fé. Se partirem, se em Jerusalém e na Palestina deixarem os seus pequenos comércios destinados aos peregrinos que não irão mais ali, o Oriente perderá parte da sua alma, talvez para sempre.

Fazei com que sintam o coração solidário da Igreja!

Às Igrejas locais, aos franciscanos, aos numerosos voluntários da caridade, verdadeiros filhos da paz, testemunhas do Príncipe da paz, exprimo o obrigado do Papa Francisco, como a todos vós, pela vossa oração e pelo vosso contributo para a Terra Santa e para todos os que nela habitam.

O Senhor vos abençoe e vos recompense. Obrigado também a cada um dos bispos que tiver a peito esta santa iniciativa.

Obrigado em nome de quem chora e de quem morre por causa da loucura da guerra. Obrigado sobretudo em nome de quem perdeu as suas crianças ou que as vê horrivelmente mutiladas. Ajudai-nos a ajudá-los!

O Senhor vos abençoe com uma grande bênção e consolação.

Quarta-Feira de Cinzas de 2024