· Cidade do Vaticano ·

O testemunho de «Mama Antula»

Mãe e apóstola de pés descalços

 Mãe e apóstola de pés descalços  POR-007
15 fevereiro 2024

María Antonia de San José foi uma religiosa capaz de viver e transmitir a beleza da fé através do exercício da oração: o seu apostolado caracterizou-se por um empenho incessante na conversão dos pecadores e na salvação das almas, através da prática de exercícios espirituais.

Maria Antónia de São José, no século María Antonia de Paz y Figueroa, nasceu em 1730 em Silipica, Santiago del Estero, então jurisdição da coroa espanhola, hoje República Argentina, no seio de uma família patrícia e abastada. Desde criança foi educada segundo os valores e princípios cristãos e cedo entrou em contacto com a espiritualidade inaciana. Em 1745, vestiu o hábito de “beata” jesuíta, emitindo os votos privados e, tendo-se retirado para o chamado “Beatério”, começou a levar uma vida comunitária com outras irmãs consagradas.

Em 1767, após a expulsão da Companhia de Jesus dos territórios da coroa espanhola, Maria Antónia amadureceu a intenção de continuar o apostolado dos exercícios espirituais, considerado um bem precioso para pessoas de todos os níveis sociais. Para este projeto, obteve a plena aprovação do bispo e da autoridade civil.

O método seguido por Maria Antónia revelou-se muito simples. De facto, assim que chegava a uma cidade ou aldeia indicada como local para os exercícios, apresentava-se imediatamente às várias autoridades para obter as autorizações necessárias. Quando os avisos eram afixados, tratava de convidar alguns sacerdotes zelosos, capazes de pregar, e procurava um local adequado e suficiente para acolher, durante cerca de dez dias, uma centena de pessoas. Nestas ocasiões, conseguia sempre encontrar tudo o que era necessário para manter gratuitamente os participantes, para além de resolver todos os problemas logísticos que surgiam.

Os frutos que colheu no fim e no encerramento de cada curso foram múltiplos: em muitos casos, houve uma reforma dos costumes, uma profunda mudança de vida, a erradicação dos vícios, a conversão de muitos pecadores, o abandono das vaidades do mundo e a melhoria do estado sacerdotal e da vida religiosa, tanto dos homens como das mulheres. Maria Antónia tornou-se para muitos participantes nos vários exercícios espirituais um exemplo de simplicidade humilde e espontânea, capaz de edificar pela sua disponibilidade e sabedoria. Em 1779, depois de um período de peregrinação entre as cidades do Norte: Jujuy, Salta, Tucumán, Catamarca, La Rioja e Córdoba (5.000 quilómetros a pé), estabeleceu-se na cidade de Buenos Aires, onde rapidamente conquistou a estima e a confiança do bispo, que lhe concedeu várias e amplas faculdades.

Foi ela que introduziu a devoção a São Caetano, atualmente muito difundida na Argentina, onde mais de um milhão de pessoas participam todos os anos nas festas patronais.

A sua fé inabalável, a sua extraordinária esperança e a sua imensa caridade para com Deus e para com o próximo fizeram de Maria Antónia um autêntico instrumento nas mãos do Senhor e, através do seu brilhante apostolado, deixou uma marca profunda na vida cristã do seu ambiente. Religiosa convicta e entusiasta, enfrentou com confiança todas as circunstâncias da sua existência, sobretudo as mais adversas. Era amante da oração, do sacrifício e da penitência, a ponto de andar descalça e usar um cilício.

Maria Antónia era também estimada pela sua excecional prudência, demonstrada sobretudo na procura de conselhos, antes de tomar qualquer tipo de decisão, junto de pessoas sábias e autoridades religiosas. Graças à sua amabilidade, conseguiu unir os ricos e os pobres sem criar descontentamento. Tudo isto lhe valeu a estima de muitos benfeitores que apoiaram a sua obra.

Entre os anos de 1790 e 1792, viajou até às terras do atual Uruguai para promover e difundir o seu apostolado. De regresso a Buenos Aires, dedicou-se à construção de um edifício maior onde pudesse desenvolver as suas atividades, construindo uma casa de exercícios espirituais que ainda hoje funciona: a única daquela época que ainda existe foi reconhecida como monumento nacional.

Nos primeiros dias de março de 1799, a Serva de Deus adoeceu gravemente. Morreu a 7 de março de 1799, abandonada completa e serenamente nas mãos do Senhor. O seu corpo foi sepultado em absoluta pobreza no cemitério junto à Igreja da Piedade, em Buenos Aires, e mais tarde trasladado para o seu interior, onde repousa num mausoléu que é hoje destino de peregrinações.

Em virtude da sua fama de santidade, o processo de averiguação foi instruído de 23 de outubro de 1905 a 29 de setembro de 1906 na cúria de Buenos Aires. Depois de obter os decretos de introdução da causa, o decreto de não culto e o decreto sobre os escritos, o processo ficou parado durante alguns anos devido a diversas circunstâncias.

Depois da promulgação do Código de Direito Canónico de 1983 e da Constituição Apostólica Divinus perfectionis magister de João Paulo ii , o processo da causa de beatificação foi retomado.

A beatificação teve lugar a 27 de agosto de 2016, na cidade de Santiago del Estero (Argentina).

O Papa Francisco autorizou a publicação do decreto do milagre a 24 de outubro de 2023.

A mensagem que o seu testemunho de santidade nos deixa pode ser deduzida das palavras do próprio Pontífice aos peregrinos argentinos recebidos em audiência a 9 de fevereiro, que sublinhou: «A caridade da Mamã Antónia, especialmente no seu serviço aos mais necessitados, impõe-se hoje com grande força, numa sociedade que corre o risco de esquecer que o individualismo extremo é o vírus mais difícil de combater. Um vírus que engana. Faz-nos crer que tudo reside no facto de nos deixarmos levar pelas nossas ambições... Ela experimentou o que Deus quer de cada um de nós para que descubramos a nossa vocação, cada um segundo o seu estado de vida, seja ele qual for, realizando tudo para a maior glória de Deus e a salvação das almas».

Silvia Correale