· Cidade do Vaticano ·

25 anos após o fim da ocupação militar indonésia

Timor-Leste avança a passos largos rumo à estabilidade
e ao desenvolvimento

 Timor-Leste avança a passos largos rumo à estabilidade e ao desenvolvimento  POR-019
08 maio 2024

Quase um quarto de século após o fim da ocupação militar indonésia e o consequente nascimento (a 20 de maio de 2002) da República independente, Timor-Leste — um país do Sudeste Asiático no arquipélago das Pequenas Ilhas de Sunda, que ocupa metade da ilha de Timor (com exceção do exclave costeiro ocidental de Ocusse Ambeno) — que o Papa Francisco visitará de 9 a 11 de setembro — procura a estabilidade e o desenvolvimento económico.

Depois de se ter tornado independente de Portugal, Timor foi ocupado pela Indonésia. O domínio de Jacarta sobre o país — que foi designado como a vigésima sétima província da República Indonésia — começou com o desembarque de tropas de assalto indonésias na costa de Díli, a 7 de dezembro de 1975 (com a total aprovação dos Estados Unidos, liderados pelo Presidente Gerald R. Ford, e da Austrália do Primeiro-Ministro Gough Whitlam), após a partida dos antigos colonizadores portugueses. No entanto, a onu nunca reconheceu a soberania da Indonésia sobre Timor-Leste.

O fim da Guerra Fria e a conclusão da longa carreira política do então Presidente indonésio Suharto puseram fim a duas décadas de conflito entre o exército de Jacarta e as forças da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que se calcula ter custado mais de 183.000 vidas. Violência que foi também testemunhada por João Paulo ii , a 12 de outubro de 1989, durante a sua breve visita a Díli, que a Igreja local recorda como «o momento em que o mundo começou a conhecer a luta timorense pela independência».

Violência a que se juntou um programa de imigração maciça destinado a aniquilar a comunidade local, predominantemente cristã, e a criar uma elite autóctone muçulmana e pró-indonésia. Na onda de mudança que levou à queda do regime de Suharto, o seu sucessor, B.J. Habibie, na sequência de fortes pressões internacionais, decidiu, em setembro de 1999, deixar o povo de Timor escolher o futuro do país, através de um referendo que sancionou a independência da Indonésia, com quase 80% dos votos. A escolha da independência gerou, no entanto, novas violências por parte do exército de Jacarta e das milícias que defendiam a integração na Indonésia, causando numerosas vítimas e obrigando centenas de milhares de pessoas a fugir.

A paz só foi restabelecida depois de as Nações Unidas terem enviado tropas multinacionais — a United Nations Transitional Administration in East Timor (Untaet, lideradas pela Austrália) — e de o exército indonésio ter aceitado cooperar. Timor-Leste foi escolhido como nome oficial da nova república.

Não faltaram tensões e violência nos anos seguintes, como em 2008, com atentados contra os líderes políticos da época, o Presidente José Ramos-Horta — que em 1996 tinha recebido o Prémio Nobel da Paz juntamente com o administrador apostólico de Díli, D. Carlos Filipe Ximenes Belo, pelas suas campanhas pacíficas a favor da independência da Indonésia — e o Primeiro-Ministro Xanana Gusmão, líder do movimento independentista, que abandonou a guerrilha pela política ativa. Gusmão, atual primeiro-ministro e antigo Presidente da República (de 2002 a 2007), foi aliás o fundador do partido do Congresso Nacional para a reconstrução de Timor, que ganhou as eleições legislativas realizadas em julho de 2012, as primeiras a nomear um parlamento democraticamente eleito na conturbada história do país, a mais jovem democracia da Ásia, que tem cerca de 1,2 milhões de habitantes, 93 por cento dos quais católicos.

Tendo-se retirado da cena política em 2014, Gusmão voltou a candidatar-se nas eleições gerais de maio de 2018, liderando a coligação de forças da oposição unidas na Aliança de Mudança para o progresso, que obteve 49,4 % dos votos, contra 34,3% da independente Frente Revolucionária do Timor-Leste independente. As eleições subsequentes, realizadas em maio de 2023, confirmaram o amplo consenso dado à coligação, que obteve 42% dos votos.

Embora o subsolo seja rico em recursos (especialmente gás e petróleo), Timor-Leste continua a ser um país pobre e com baixos rendimentos. A escolaridade está difundida, mas o ensino básico é deficiente. Um país que politicamente conseguiu passar da luta armada à transição pacífica, fechando finalmente as contas com o passado. De facto, a Indonésia tornou-se um “país amigo”, tendo o Presidente Ramos-Horta felicitado recentemente o antigo general Prabowo Subianto, recém-eleito chefe de Estado indonésio (em fevereiro passado), que comandou as tropas dos invasores na década de 1980. A Indonésia tornou-se também o principal “patrocinador” da entrada de Timor-Leste na Asean, a Associação dos Países do Sudeste Asiático. Atualmente, Díli tem apenas o estatuto de observador, mas numa das últimas cimeiras da Asean, os outros países membros chegaram a um acordo para permitir que Timor-Leste se torne o décimo primeiro membro da organização multilateral (seria o primeiro a aderir à Asean em mais de duas décadas, desde a admissão do Camboja em 1999). Isto abriria certamente novas possibilidades de desenvolvimento para a economia de Timor-Leste, que é atualmente considerada a menos avançada da região, juntamente com Myanmar. A adesão à Asean daria finalmente a Timor-Leste condições equitativas no seio do grupo regional e acesso a um enorme mercado, o que ajudaria Díli a crescer mais rapidamente e a participar nos processos de tomada de decisões.

Francesco Citterich